Alma Nova 11 - Choros de Tempestade

-Não acredito que você se tornou um cavaleiro de Peixes, estou muito orgulhosa de você! – dizia a garota com seus vinte anos, de cabelos beirando ao branco, mas com uma suavidade de verde-água quando tem batido luzes solares sobre si. Naquele dia que era o maior de todo ano, naquela terra fria e congelada da Groelândia.

Era ela bela, muito bela. Uma beleza conseguida apenas por aqueles que possuem esse dom na família e muita sorte. Ela realmente tinha orgulho de seu irmão, ele treinara e lutara por aquela armadura que era tão bela. Tão bela que talvez ofuscasse toda a sua beleza.

-Que é isso, mana. Sabe que me esforcei o suficiente para conquistar a armadura, e com uma rival como você, escolhida também para suceder a armadura de peixes. Foi páreo duro. –Dizia o cavaleiro de peixes que era maior que sua irmã, ofuscado pelo sol fraco daquela terra, reluzindo a ouro. –Mas foi bom você não ter conseguido a armadura. Não gostaria de ver sua beleza maculada por tanta maldade e crueldade da vida de um cavaleiro de Athena...

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No quarto das crianças no orfanato Filhos das Estrelas estavam desmaiados os cavaleiros de bronze Thouma, Okko e Isaak, desmaiados em cima de camas, e Pandora estava consciente cuidando dos seus companheiros enquanto Hana estava encolhida em um canto do quarto e chorava copiosamente. Tantas pessoas já haviam morrido por causa dela, e agora uma criança lutava para protegê-los, Hana amava as crianças do orfanato e nunca iria colocar uma delas para lhe proteger. Era mais provável que ela morresse no lugar dela, e ela até tentou, mas levou um tapa de Pandora que se martirizava agora por bater no rosto de uma Deusa.

Porém Pandora não sabia muito bem o que fazer com a cabeça tão confusa, se martirizava por bater em uma deusa que nem ao menos tinha sua devoção. Tinha a missão de protegê-la, mas porque simplesmente não a deixara sair para morrer pelas mãos de seu próprio cavaleiro? Ela se auto convencera que estava fingindo que queria sua proteção, mas o fingimento era real demais. Tinha que lembrar que era monitorada mentalmente pelos deuses gêmeos da morte e do sono. E a imagem do rosto do diretor do orfanato lembrava instintivamente a Hades...

E o pior de tudo isso, entre as suas questões e indecisões de escala divina, parecia ocupar sua mente mais do que seus pensamentos era o cavaleiro de cisne, que tinha manchas negras como o ébano. Ele se debatia, estava em uma febre assustadora e ainda gritava algo sobre seu mestre e uma mulher chamada Mikkeli. Isso lhe deixava nervosa, com a força e intensidade que ele gritava. Ela sabia que aquilo era a conhecida “Morte Negra”, uma praga que devora o corpo, alma e cosmo. Tentava lembrar como era a cura, mas não lembrava devido a sua mente confusa.

Enquanto isso, Hana só pensava em como se metera naquele turbilhão de coisas, sendo atacada por aquele cavaleiro de negro. Ou mesmo quando aquele homem de cabelos cacheados azulados havia lhe encontrado, mas ao que parece era tudo por causa dela e daquela urna dourada que estava a sua frente. Achava-se uma idiota por deixar logo “aquilo” no orfanato, atraindo esses seres sobrenaturais chamados “cavaleiros de Athena”. Achava que Shun iria lhe culpar para sempre, achava que as crianças podiam morrer com aquela idiotice que fizera, ela mesma achava que era melhor ela ter morrido para aquele cavaleiro negro. Ela fazia tudo, menos se preocupar consigo mesmo.

Nenhuma das duas queria ver o que acontecia do lado de fora, Hana só queria que aquilo parasse, Pandora sabia que o melhor era olhar para o caso daquele aprendiz fosse derrotado, mas não conseguia se concentrar devido ao turbilhão de pensamentos e indagações que passavam por sua mente.

Eis que ambas repararam que o barulho havia acabado e as luzes vermelhas não apareciam mais como um reflexo na parede. A luta estava terminada e passos vinham em direção do quarto. Pandora puxava Hana com uma força que ela não parecia ter, e já preparava para atacar.

A maçaneta começava a girar e a porta a ranger, abrindo rapidamente...

Era Shun, e ambas respiraram aliviadas, mas com ele estava um homem gigantesco, com cabelos loiros e curtos e com um dos olhos que não abria por causa de uma cicatriz enorme e grossa. Estava com um sobretudo marrom, e roupas esportivas, como qualquer pessoa do mundo.

-Er... Este é... Amigo do Mu... – Hana não fazia idéia quem era e nem Pandora, mas só no anuncio do nome de Mu, já lhe arrepiara. De acordo com seu mestre, Mu era o mestre de Jamiel, e ainda o verdadeiro coordenador da resistência Aioros. Agora fazia sentido quem os salvou.

-Olá, sou Garan. Um servo da casa de Leão. –Shun estava assustado, pois ele viu o que aconteceu com o aquele cavaleiro que manipulava as chamas, tivera um rombo feito no meio do peito, e apenas caiu, sem ao menos saber o que lhe havia atingido. Eram monstros em forma humana.

Garan ia imediatamente em direção a Isaak, chegava a ponto de derrubar Pandora sem o mínimo de cuidado, e atravessa Hana sem ao menos encostá-la. Pandora se levanta pronta para agredi-lo, e via que olhava para Isaak com olhos de curandeiro, não. Eram mais precisos como os de um cirurgião.

-É a morte negra. –Pandora dizia seu diagnostico para adiantar a cura de Isaak.

-Eu sei... –Garan teve um olhar de desprezo. – Isso é obvio, e para isso só há uma solução...

A mão esquerda é erguida e revela uma manopla de metal equivalente a uma mão humana, porém não havia espaço para uma mão, apenas se ela fosse atrofiada, era como uma mão biônica que não se movesse por energia elétrica, mas sim por cosmo. Mas o mais chocante ainda era que aquele misterioso homem estava prestes a atacar Isaak com um golpe com dois dedos direto, e era possível também ver o cosmo fluir para sua mão concentrando nas pontas dos seus dedos.

Imediatamente uma explosão de velocidade, e enquanto a mão de Garan descia, Pandora agarrava seu pulso. Era possível ouvir o metal ranger com a pressão que ela exercia, impedindo o golpe de misericórdia. Garan estava surpreso pelo potencial daquela garota, que exalava um cosmo púrpuro. Perguntava-se se ela era mesmo um cavaleiro de bronze, e ao reparar no paciente, aquela que todos estavam achando que era Athena estava debruçada sobre o corpo do cavaleiro de Cisne.

-Não vou ver ninguém mais dos meus amigos morrendo. –Hana dizia sem olhar para Garan, com uma voz trêmula e lacrimejante, mas cheia de coragem e determinação.

-Essa não é a solução para a Morte Negra, eu sei que tem uma cura. –Pandora deixava seu cosmo púrpuro fluir até mesmo nos seus olhos de uma maneira intimidadora.

-Essa é a única... –Garan olhava diretamente aos olhos intimidadores da amazona de Pandora. -... Maneira de curá-lo. Tenho que abrir os pontos cósmicos para que com isso a “Morte Negra” saia junto com o sangue, é uma medida arriscada, mas no grau que ele esta, qualquer coisa é arriscada.

Era verdade, Pandora lembrava agora da cura citada pelo seu mestre, Albior. Lembrava que a Morte Negra deveria ser tratada o mais rápido possível. Ela vem com um golpe geralmente e não é sentida no momento, apenas se encubava acumulando os danos para atingir o corpo certeiramente, agravando ainda mais seu estado.

Pandora larga o braço metálico de Garan, e tira levemente Hana de cima do corpo de Isaak, dizendo à Hana que estava tudo bem, que era melhor ajudarem Shun e Kiki. Tudo que queria era poupar a visão de Hana do que iria acontecer. Fecha a porta e tira a reencarnação de Athena do quarto.

No saguão da sala, Shun estava no sofá, com a cabeça baixa, segurando levemente os cabelos. Como se algo o preocupasse, ou seja, tudo que ocorrera. Ouvia passos, era Hana sendo segurada por Pandora pelos ombros, que saia para os braços do diretor, chorando e pedindo mil perdões por colocar ele e as crianças em perigo, em uma cacofonia lamuriosa.

Shun a acalmava com todas as suas palavras de conforto para não dizer que a culpa era dela. Shun sabia que ela era a maior vítima daquela situação. Qualquer outro em seu lugar estaria a culpando, mesmo que guardasse dentro de si, mas não Shun. Ele acreditava que o mundo era um lugar bom, cheio de pessoas boas, que no máximo as pessoas sobreviviam, e que sua essência é bondosa. Talvez Shun fosse a pessoa mais bondosa do mundo e talvez realmente fosse.

Pandora apenas ficava parada em seu mar de dúvidas e devaneios, por trás daquela máscara que a sufocava. Perguntava-se o porquê de se preocupar mais com o cavaleiro de Cisne do que com sua missão, seja de proteger Athena ou mesmo para com os deuses que manipulam suas cordas. Até que a porta abre abruptamente, revelando o jovem lemuriano carregando e arrastando um homem totalmente ferido...

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Heda e Spika estavam inconscientes já, apenas June mantinha a consciência de maneira muito turva. Ela não conseguia acreditar, era inconcebível em sua mente aquele homem que estava a sua frente. Seu corpo e o dos outros guerreiros da ilha de Andrômeda não reagiam, seus cosmos haviam queimado há um nível perigoso, no qual suas vidas poderiam se esvair. Mesmo com suas armaduras, elas eram apenas pesos naquele momento, junto com as armas que vinham nela, que era inútil. E aquele monstro em forma de gente nem ao menos descruzou os braços.

O cavaleiro de ouro não se movera um momento sequer, mas seus golpes vinham, não era psiquismo, não era nem ao mesmo um golpe de energia. Era possível sentir o punho do imenso adversário em seus corpos, rompendo sua pele e lesionando seus órgãos internos. E isso sem se mover, talvez apenas querendo que eles morressem, eles morreriam. Os cavaleiros de ouro não faziam jus a sua fama, eles eram muito mais fortes ainda. Mesmo os cavaleiros de bronze eram muito acima dos humanos normais, mas nem eram o poder de um dedo de um cavaleiro de ouro. O terror nos ossos da amazona era evidente e decepcionante para qualquer um que tivesse o mínimo de amor-próprio.

E era pior do que June imaginava, pois Aldebaran nem havia usado sua força total, apenas o que ele chamava de “força contenção”, a força do touro dourado era absurda, assim como de todos os outros dourados. Aldebaran ao ver todos os jovens caídos imóveis, começa a andar lentamente, olhando a paisagem bela e letal. Esperava lutar logo com o cavaleiro de prata rebelde, de acordo com a fama do tal cavaleiro, não esperava que ele fosse se esconder atrás de seus valorosos discípulos, mesmo com sua imensa compreensão Aldebaran já estava repensando sua missão.

Anda aos poucos para dentro da ilha, observando tudo atentamente, e via que aquele lugar lembrava o Santuário Grego, porém mais afiado e menos clássico. Seguia o cosmo de seu oponente que estava do outro lado da ilha.

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Milo estava aos pés de sua escadaria, sentado e riscando um dos degraus com sua unha. Desenhava aleatoriamente, em um mínimo que era considerado vandalismo e um ato indigno para um cavaleiro de ouro, mas tamanhos eram os danos causados a cada dia a qualquer placa de mármore do Santuário apenas por citarem o antigo cavaleiro de Sagitário, ou mesmo quem era o antigo Grande Mestre.

E tudo parecia piorar, e cada vez mais desde que Athena nasceu. As poucas vezes que estivera no Santuário durante sua fase de treinamento e a cerimônia para adquirir sua armadura tudo parecia piorar, os treinamentos, as gerações de cavaleiros que pareciam ter seus cosmos cada vez mais enegrecidos, parecendo mais máquinas que eram assassinas e apenas cumpriam ordens.

O cavaleiro de escorpião não achava aquilo certo. Acha que cavaleiros deveriam ser mais humanos que os próprios humanos para protegê-los. Cavaleiros tinham que trazer luz, e não somente fazer “limpeza” das trevas. Parecia que o marco dessa “Idade das Trevas” foi com a morte de Aioros e não com sua suposta traição. Afinal, já se passaram mais de 15 anos que aquilo acontecera... E só daí, que os “rebeldes” começaram a aparecer.

E ele sempre pensava em Hana, na armadura de Sagitário e de como os cavaleiros de ouro começavam a esvaziar suas casas desde que ele relatara ao Grande Mestre Ares sobre a existência da armadura e de sua “guardiã”. Será que...

-Já chega disso. –a voz grave e raivosa passiva de um leão prestes a atacar. –Afinal, de contas o que você é?!

-Como assim?! -Milo estava surpreso, não reparara a presença de Aioria. E pela voz ele estava o seguindo há muito tempo.

-Você é ou não é um traidor?! Se for, vou matá-lo aqui e agora! –Nunca viu Aioria tão raivoso. –Vamos! Diga!

-Ficou louco? –Milo não sabia de nada que estava acontecendo, e muito menos queria lutar. –De onde você tirou isso?

-Posso saber o porquê desse dialogo hostil? – Os passos eram de um militar, um verdadeiro executor. Um soldado que não precisava de Athena, seu próprio código de conduta era mais rígido que as ordens de Athena. Enquanto a palavra da deusa dava ordens e movia exércitos para a batalha, a dele dilacerava exércitos. Um cavaleiro que estava acima da ética de qualquer um, que todos temiam. Shura de capricórnio, o dito executor de traidores, já que ele mesmo sem armadura desafiara e lesionara o traidor de Sagitário.

Os olhos de Shura pareciam tão afiados quanto à fama do espanhol, era forjado para ser um “inquisidor do Santuário”, e acabava de ver Aioria tentando lhe tomar o cargo.

-Ou o que?! –Aioria estava desafiador, odiava seu irmão por trair o Santuário, mas odiava também Shura por ter matado sua família, exceto a que ele salvou.

-Não esta acontecendo nada, Shura. Apenas Aioria reclamando do meu vandalismo com o degrau do Santuário. –Milo odiava lutar, odiava matar e não queria ver cavaleiros de ouro se digladiando até a morte. –Logo mandarei um dos meus servos cuidar da minha “insolência”.

-Faça isso! –dizia Shura. –E cuidado Aioria, odiaria terminar completamente com a linhagem de traidores que assola o Santuário.

O sangue de Aioria começava a subir, pensava que poderia vencê-lo. Pensava que seu cadáver seria irreconhecível com uma cápsula do poder e poderia acusá-lo de traição. E Shura simplesmente começava a subir. Milo apenas queria que ambos saíssem de sua escadaria, até que uma jovem de cabelos verdes subia a escadaria. Era a serva da casa de Leão. Lithos.

-Mestre, você está ai! Fiquei preocupada com você. –De uma posição raivosa, ele passa a ser um Aioria protetor, até porque Lithos era sua protegida. –Vamos para a casa de Leão. –Começava a puxar seu mestre que não oferecia resistência.

Milo respirava aliviado e ao mesmo tempo preocupado. Evitara uma guerra de três pessoas, mas agora sabia que era um dos suspeitos de ser um traidor. Uma guerra iria começar logo, e era uma questão de tempo até ela explodir. Só falta o lado inimigo, se é que ele é o “lado” inimigo.

*****

Rozan, as cachoeiras místicas e lendárias onde em eterna vigília se encontra o mestre Ancião. Em seu fardo enquanto admira toda aquela região crescendo, tem seus primordiais alicerce corpo e sangue de muitos cavaleiros e espectros, cobertos pelo minério místico do pó de estrela que cai sobre a região. Algo sempre nasce de guerras, dor e morte, pelo menos foi uma coisa boa. Aquelas plantas fortes, aquele chão poderoso, as águas selvagens e as pessoas que sobrevivem com humildade e respeito.

Lembrava de seus irmãos de armas, até mesmo de seus rivais, todos mortos enquanto ele vivia. Cada batida de coração ele se recriminava por estar vivo. Queria estar na companhia dos outros cavaleiros, queria poder simplesmente viver ou morrer, mas ainda tinha a sua missão para seguir. Porém, pelo cosmo que se aproximava, seu tempo de confinamento iria acabar. Não sabia se sorria ou se lamentava, como sempre apenas aceitava o fato.

Vindo de uma pequena rachadura atrás de uma das diversas cachoeiras, surgia primeiro uma linha negra que se ampliava com um formato oval. De dentro daquele cosmo vinha gritos e lamurias de mortos fadados a caminhada dos mortos. Surgia aquele dos doze guardiões das casas zodiacais, o mais sombrio e soturno, capaz com a simples visão aterrorizar os sonhos de pessoas. O mensageiro da morte e guardião das portas do inferno que o faz simplesmente em nome de Athena.

Pelo menos rezava-se para isso...

-Olá! Velhote. –Máscara da Morte, com seu olhar esguio de assassino e sanguinolento daquele italiano mórbido.

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O cavaleiro de prata da Coroa Boreal estava meditando no meio do deserto da Sibéria com ventos que matariam qualquer cavaleiro que não fosse um guerreiro do ártico. Os ventos eram assassinos e congelantes. Congelando até mesmo a umidade natural da pele, o que causaria paralisia e tremedeiras compulsivas em guerreiros santos não acostumados com o frio.

Cristal sempre foi emocional demais comparado com seu mestre e com seu pupilo Isaak, intimamente, ele parecia mais com Jacob o qual deixara treinado em uma área onde os picos de gelo quebravam os ventos. Lembrava que sua missão não era apenas treinar, lembrava que ele não era apenas um cavaleiro de Athena e um membro da Resistência Aioros, mas que também era um Guerreiro Azul, um dos cinco com uma missão especifica, que ele pretendia passar para Isaak, mas que não seria possível. Teria que delegar seu peso para Jacob com apenas seus treze anos, pois sabia que seria a última vez que olharia para as planícies geladas da Rússia...

O motivo se aproximava em passos firmes e frios, com uma razão que acalmava até mesmo a tempestade de gelo, que era a Morte Branca, para os desavisados. Seu algoz era a pessoa que ele mais admirava, a pessoa que ele tinha como exemplo de vida, por que não, como deus. E esse mesmo Deus Ártico iria puni-lo por abandonar a religião, que era a mais pura racionalidade.

Enquanto sentia ao longe o cosmo áureo se aproximando, começava a se levantar vagarosamente. E pensava porque aquela história toda era uma loucura, não fazia sentido aquela história de tanta conspiração e morte; mas seu coração dizia o contrário. Por haver tanta coisa duvidosa, que ela era. Era como confiar na existência do ar ou na gravidade quando se tem cinco anos, são coisas óbvias demais que não precisam de explicação.

E assim chegava o cavaleiro de ouro, sua certeza agora era seu poder, sua razão só seria usada para combate. Razão e emoção fazem parte da mesma pessoa, intuição é o sexto sentido que todo cavaleiro tem que ter aprimorado. Finalmente conseguia vê-lo, e nunca deixava de se surpreender com a visão do mago do gelo.

Aquele homem que aparecia envolto em uma névoa seca e fria, os longos cabelos azulados que em outras terras pareciam exóticos, ali parecia uma extensão do céu refletido no gelo. Com a capa que voava levemente, e junto com a sua armadura áurea, que lhe dava a imponência a qual era por direito dele.

Um confronto de dois guerreiros do ártico, uma batalha monumental e histórica iria começar e ninguém registraria. Geralmente eram assim que as lendas eram contadas.

*****


-Máscara de Morte, o que faz aqui o cavaleiro de ouro da quarta fortaleza do zodíaco? Fico alegre em receber visitas, mas se tivesse avisado eu teria preparado algo. –A frase veio com um misto de humildade e ironia, junto com uma risada idosa.

Máscara da Morte olha para a figura mítica e lendária no mundo dos cavaleiros de Athena. O que era irônico era que talvez o cavaleiro mais temido fosse um velho decrépito de menos de um metro e quarenta, o qual faltavam três dentes ou mesmo mais. Seria fácil demais se ele não fosse o cavaleiro de Libra.

-Desculpe velho, mas não sou muito sociável como você já deve ter ouvido falar. Vim aqui unicamente para lhe matar, nada pessoal, apenas ordens. –Uma risada mórbida e sem vontade alguma, praticamente a antítese total da risada de Dohko. Mas era a mais pura verdade, Máscara da Morte não tem nada contra o cavaleiro de libra, até mesmo tinha respeito pela figura já que o Mestre Ancião conhecera seu mestre. No entanto tinha que matá-lo, já que ele abdicara de sua consciência há muito tempo.

-Impressionante esses jovens cavaleiros que apenas “obedecem a ordens”, isso na minha época me pouparia de diversos problemas. Lembro-me de uma vez em que...

-Todo velho mesmo gosta de enrolar ou é mesmo sua senilidade lhe afetando? –O cavaleiro de Câncer interrompe o discurso do velho mestre.

-Perdão, quando se vive tanto tempo quanto eu e sozinho. Quando se encontra alguém do mesmo oficio, ficamos com vontade de dividir as experiências, passar aos mais jovens sobre nossas histórias para que eles acertem onde nós erramos, para...

-Você está começando a tornar isso pessoal, o bom que talvez eu tenha prazer nisso. –O cavaleiro italiano ia em direção ao misterioso cavaleiro de Libra para cumprir suas ordens. –E você? Não vai mesmo reagir?

-Se eu fizer isso, irei descumprir ordens diretas de Athena, e você sabe que nós vivemos para cumprir ordens, não é?!

-Mais até do que você imagina... –Máscara caminhava cada vez mais em direção ao Mestre Ancião, até que uma jovem se jogara no meio de sua trajetória com o seu corpo.

-Não vou deixar você dar um passo na direção de meu mestre. –Era Shunrei que se colocava no caminho de Máscara da Morte, com sua constituição frágil, mas com uma vontade imensa. Tentava agir como Okko, mas não tinha aquela determinação e autoconfiança, e muito menos treinamento.

-Há menos que você tenha o poder de suprimir seu cosmo inteiro e seja o próximo cavaleiro de Libra, sugiro que saia da minha frente, menina. –Máscara da Morte se satisfazia mais em matar Dohko do que Shunrei, até porque ela fazia lembrar o jeito sem autoconfiança própria e ao mesmo tempo com uma determinação ferrenha, assim como Gabrielle...

-Não! Não vou sair!!! –Shunrei já com algumas lágrimas nos olhos, mas firme em sua decisão. E por um instante via Gabrielle com seus cabelos castanhos e cacheados e olhos escuros postos na sua frente, na mesma posição, com os braços estendidos, gritando com ele.

-Shunrei, saia! –dizia o mestre Ancião para sua discípula. –Você não pode com ele. –Mas ela não queria saber, tinha que ficar lá e proteger seu mestre.

Máscara da Morte começa a lembrar de tudo que era antes de ser Máscara da Morte, antes de não ter sua consciência. Lembrava de todos, todos que agora jazem na casa de Câncer. Isso lhe deixava com ódio de si mesmo, as memórias que ele reprimia tanto tempo começam a reaparecer, e nada lhe dava mais ódio. Iria torturar e matar aquela garota por abrir aquela ferida antiga.

Levantava seu punho de maneira assassina, iria atravessá-la, mas não matá-la. Depois iria destroçar seu corpo no Yomustu Hirasaka e jogá-lo aos pedaços, mas não conseguia mais mover seu braço. Por um instante achou que era a sua consciência, mas da última vez que ela agiu dessa maneira ele completou o serviço e vomitou logo em seguida. E seu braço não tinha um cosmo próprio emanando.

-Agora mata inocente? Máscara da Morte?

-Sempre matei, Mu de Touro...

*******

Aldebaran finalmente chegava a seu encontro, e não encontrava o que esperava. Viu um homem nobre, loiro, altivo trajando uma armadura de maneira nobre e respeitosa. Ele estava de costas, olhando para o horizonte. Com cabelos loiros ao vento, olhando o horizonte e o sol que começava a querer a desaparecer da ilha de Andrômeda ou mesmo procurava o melhor lugar para observar o que estava prestes a acontecer.

-Fico agradecido que seja você a vir, esperava alguém com menos virtudes: como o Máscara da Morte ou mesmo aquele fanático do cavaleiro de Leão. –Albior se virava para o cavaleiro de ouro presente, e Albior poderia se passar muito bem por um cavaleiro de ouro. Sua postura autoconfiante, o ar de humildade e superioridade que todo o cavaleiro de ouro tem.

-Acho que nisso você tem razão, agora antes de nos combatermos, me responda: porque você mandou seus aprendizes primeiro e não me combateu? – Aldebaran não acreditava que um homem daqueles era capaz de uma covardia daquelas, principalmente daquela maneira inútil.

-Discípulos idealistas são geralmente bem rebeldes, preferi você combatê-los a eu os atacar. Eles são como filhos para mim, só teria coragem para nocauteá-lo se fosse outro cavaleiro, agradeço a Athena por ser você. Foi bom para eles verem realmente o nível de um cavaleiro de bronze para um cavaleiro de ouro. –Albior só tinha sinceridade nos olhos, a mesma sinceridade que Aldebaran sempre carregou.

O medo de Aldebaran era ser enganado por esses que eram os “traidores de Athena”, Athena estava no Santuário, e não era a primeira vez que tentavam um golpe desses contra o Santuário de Athena. Tinha medo que suas convicções fossem falsas, tinha medo de matar uma pessoa boa, tinha medo de deixar um algoz de Athena vivo. Pesando tudo, o lado que mais pendia era o de Athena, pois ele recebera ordens diretas de eliminar o cavaleiro de Cefeus.

Colocava-se em modo de sua força de contensão, cruzando seus braços em uma posição sólida que muitos de seus adversários pensaram que era deboche, mas na verdade era a mais pura demonstração de poder e imponência do cavaleiro de ouro da casa de Touro.

Vendo aquela posição e o aumento de cosmo de Aldebaran, sabia que teria que vencer para convencê-lo. E preparava-se também. Albior deixava suas correntes criar vida, se espalhando pelo chão na forma de uma nebulosa. Albior parecia muito mais poderoso, pois agora todo o cosmo do cavaleiro de Cefeus fluía por onde tocava a corrente, como se parte da própria ilha de Andrômeda fosse ele mesmo. Além do próprio cosmo áureo reluzindo dele, o cosmo pertencido por aqueles que alcançaram o sétimo sentido.

O incrível era que suas técnicas eram muito semelhantes: atrair o inimigo para sua defesa, para atacá-los. Era um momento tenso, até mesmo por ambos terem quase o mesmo nível de poder e técnicas similares. Era óbvio que um dos dois teria que largar a sua “defesa impenetrável” em nome de uma possibilidade de fazer o outro sair de sua defesa. Um verdadeiro combate digno dos mitológicos “mil dias de guerra” de cavaleiros de ouro.

Era algo aterrorizante, até mesmo para June que estava distante, colocando com ajuda de Spika e Heda, gravemente feridos, os que estavam em pior estado físico e mental. Sentiam na pele o atrito dos cosmos áureos, na forma mental de arrepios e terror, e na forma física de enjôo e espasmos involuntários. Mesmo sabendo que seu mestre era poderoso, nunca poderiam especular que seu poder fosse nivelado com o de um cavaleiro de ouro. Mesmo anoitecendo para os guerreiros feridos da ilha de Andrômeda, era um pôr-do-sol feito de cosmos dourados, que parecia mais vivo do que o do próprio sol. A amazona de camaleão agora sabia por que dizem que os cavaleiros de ouro são deuses com corações humanos.

-June, vamos sair desse inferno! –gritava Heda tirando ela de seu transe daquele crepúsculo artificial.

-Certo! Vamos! –June nunca considerou a ilha de Andrômeda como um inferno, mas sim como um lar, e até perder de vista seu lar, não deixou de olhá-lo, despedindo-se de seu mestre e de seu lar.

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Kamus não acreditava, mas suas ordens eram específicas. Eliminar um traidor, que era seu próprio pupilo, seu irmão de armas, e um guerreiro do ártico assim como ele. Os cavaleiros de mesmo treinamento eram raros, e por serem raros e terem uma ligação de poderes e experiências eram considerados irmãos.

O cavaleiro áureo podia ser um iceberg por fora, mas por dentro era um verdadeiro turbilhão de confusão e emoções que passavam por dentro de si, que ele tentava abrandar com sua racionalidade e a inexorável ordem de eliminação vinda do Santuário. Seu pupilo era um traidor de Athena, alguém que ignorava a paz do Santuário e queria simplesmente o caos completo. E seu dever era eliminá-lo.

Ele não queria isso, não aceitava, mas se negasse tal ordem seria como se ele torna-se um traidor, como ele estivesse atacando a própria deusa-viva. E isso não era aceitável, trair sua religião, todos aqueles que morreram por um ideal de paz e manutenção no mundo, era uma heresia a tudo que Kamus acreditava.

Andava devagar, querendo acordar daquele pesadelo. Queria no mínimo adiar aquele momento o máximo possível. Não queria manchar a sua terra-santa gélida com sangue, principalmente com um filho do deserto de gelo.

Já era possível sentir o cosmo de Cristal a poucos metros de distância. Era um cosmo de outro guerreiro, e não o mesmo Cristal que ele treinou durante anos. Um cosmo mais poderoso e refinado, cheio de certeza, inquebrável e transparente, como seu codinome anunciava.

Até que ambos se encontram, cara-a-cara. O pupilo e o mestre, os dois guerreiros do ártico, dois cavaleiros de Athena, os dois irmãos... Numa luta em que qualquer um dos deuses bondosos estaria chorando, a própria Athena, a verdadeira, estaria gritando desesperada para evitar essa luta.

-Por quê? – Perguntava Kamus ao amigo, mais serio e compenetrado do que nunca. – Porque você traiu o Santuário? Porque você traiu Athena? Porque você traiu os nossos ideais justiça e ordem?

-Kamus, meu mestre. Não sabe o quanto eu quis explicar, a cada vez que eu lhe encontrava depois daquele dia. Quando nós o encontramos... –Cristal fechava os olhos com força e lembrava-se daquele dia, quando Marin, Albior, Guilty, Mu e ele próprio, viram aquela conversa. – Infelizmente nem tentarei te explicar, até porque a própria realidade parecia ilógica.

-O que aconteceu?! Eu só quero uma explicação plausível! –Kamus pedia uma explicação lógica. Apenas isso.

-Não posso, e você sabe. –Cristal sabia. – Eu sei que você quer saber para ir atrás dos outros, mas o que eu posso dizer é que você não está seguindo o lado verdadeiro da Justiça. Aquela Athena não é Athena. Aquele Grande Mestre não é o Grande Mestre verdadeiro.

- Vejo que eu te treinei bem demais a como estudar o inimigo, não é?! – Em parte era verdade, Kamus sempre tentava arrancar informações, mas dessa vez não era apenas isso, queria um motivo, queria saber o que levava Cristal a se tornar um traidor.

Cristal queria realmente falar, como depois daquele fato, como durante a vinda de Kamus para ver Isaak. Queria poder mandar uma carta contando tudo, queria mostrar o testamento que ele deixou para Jacob, na geleira a qual ele estava golpeando naquele momento. Na qual chorava, pois sabia que o mestre estava para se sacrificar.

-Acho que a hora das palavras acabou. E o sangue de um dos guerreiros do ártico iria macular o gelo puro da Sibéria. –dizia Cristal.

- Seja o meu ou o seu. – dizia Kamus.

E o embate mais doloroso da história do deserto de gelo: Gelo, Lágrimas e Sangue...

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Aldebaran sabia que ambos poderiam ficar ali vários dias, então resolveu atacar pelo menos para avaliar o potencial dele. E com uma simples rajada de seu poder e sem ao menos se mover, atacava Cefeus. As correntes reagem imediatamente, como um escudo, elas absorvem totalmente a rajada do cavaleiro de Touro, transformando aquela massa de poder, em alguma espécie de eletricidade que fluía pelas correntes.

O cavaleiro áureo se impressionava, a defesa das correntes de Albior se trata de absorver o cosmo lançando direcionando para seu próprio uso, o que denotava que ele não era um combatente, mas sim um manipulador de área, assim como é Kamus, Mu, Shaka, e outros... Sabia como lutar.

Durante um piscar do cavaleiro áureo, Albior simplesmente desaparece como se fosse a mais pura miragem que nunca existiu, mas as correntes estavam lá. Em uma segunda olhada mais precisa esperando que fosse uma ilusão de ótica devido ao crepúsculo que acontecia, Cefeus aparecia do nada, mais próximo a ele aplicando-lhe um soco direto nas placas de metal, eficiente se não fosse contra ele. Um golpe que o nocautearia completamente.

Aldebaran prepara seu enorme punho para esmagar o cavaleiro de prata, um golpe rápido preciso e simples, não para matar, apenas embalá-lo no manto de Morfeu. Seria simples, sem as correntes, sem a defesa de sua armadura era fácil demais... Fácil demais.

O sorriso de Albior fez o que tudo parecia mal encaixado se ajustasse. Notou que a sua orgulhosa defesa estava desarmada, e ele era enormemente inteligente, tão ou mais que Kamus. Descia o seu punho o mais rápido que podia com a ajuda da gravidade. E só sentiu pedras...

No piscar de olhos seguinte, o elmo do cavaleiro de touro voava pelo ar graças ao chute de Albior, que aparecia como um fantasma em pleno ar, com a perna esquerda esticada na nuca do gigante de touro. O corpo de Aldebaran era treinado o suficiente para aguentar aquele tipo de impacto, mas aquele golpe não era para causar danos físicos, mas sim lesionar o cerebelo e bulbo de seu oponente, que atingiria seu equilíbrio e coordenação motora. No instante seguinte, houve um segundo chute ainda em pleno o ar, e acertou a garganta de seu oponente com a ponta do pé em noventa graus com a sua perna, acertando em sua traquéia.

A falta de ar e de equilíbrio de Aldebaran é quase que sentida automaticamente. Seu mundo era agora algo desfocado, desequilibrado e sufocante, aquela era a sua realidade graças por subestimar, por um instante, seu adversário. Aquele homem minava rapidamente suas forças não atacando diretamente, mas sim atacando suas funções motoras com cálculos quase cirúrgicos e em uma velocidade impressionante para um cavaleiro de prata. O cavaleiro de touro teria que prever o próximo ataque e detê-lo, mas isso era complicado com seu mundo se deformando e com você não conseguindo respirar.

Um soco na parte frontal foi o golpe que ele não previu e nem deteve, agora seu mundo tinha obscurecido, e mesmo não vendo seu mundo girar, a própria escuridão parecia alterar sua gravidade e seu chão. Albior era letal, a lenda de seu poder não era em vão. Inteligência tática, aliada a defesa das correntes de Cefeus e a uma velocidade que era assustadora.

Albior finalmente colocava as pernas no solo da ilha de Andrômeda, e via que estava com alguma vantagem, pelo menos era o que ele esperava. Afinal, só sabia que Aldebaran era do tipo combatente, assim como ele, mas Albior sabia que apenas força não resolvia todas as situações, lutas contra seres mais poderosos ou numerosos tinham que ter planejamento, estratégia e o mínimo gasto de energia. Albior e Marin eram muito parecidos nisso, a diferença entre eles era que Marin não suportava lutas, preferia manipular seus adversários, já Albior tinha o dom para combates em desvantagem.

O cavaleiro de prata sabia que não poderia encarar Aldebaran e nenhum cavaleiro de frente, primeiro tinha que conhecer seu tipo de luta, após isso achar uma falha em sua técnica ou criar uma, para ir minando lentamente para depois aplicar o golpe com força total. Saber disso poderia ser evidente, aplicar isso com o sangue lhe fervendo e com a ameaça de morte iminente fica difícil organizar e coordenar os movimentos no calor da batalha, porém para Albior era normal.

E Aldebaran não pensava, apenas via seu mundo transmutando em algo parecido com a “luz” que todos vêem quando estão prestes a morrer. Era angustiante e doloroso, o mais impressionante era o poder e a tática do cavaleiro de Cefeus.

O guerreiro da ilha de Andrômeda se afastava consideravelmente para junto de suas correntes, e as mesmas se acoplavam suas armas em seus punhos. Voltando a sua defesa perfeita, ele começava a concentrar seu cosmo para aplicar seu golpe, o que consistia em mais um golpe. Os ventos daquela ilha, antes inertes, agora mudavam subitamente, nuvens tempestade começam a se formar também, caindo relâmpagos, a chuva começa a cair de maneira forte, para logo em seguida se tornar granizo, junto com os retumbantes e ecoantes trovões.

Aldebaran perdia ainda o sentido da audição, eram tantos sons que ele mesmo não sabia definir. Enquanto cada respiração de Albior estava sincronizada com cada ruído da ilha. E a cada vez que o cosmo de Albior aumentava, a natureza respondia, até que chegou o vento cortante. O barulho do vento começava como uma lâmina afiada sônica no ouvido do emissário do Santuário, um filete de sangue começava a sair de seus ouvidos, e alguns instantes depois começavam a sair de seus olhos. O som piorava seu raciocínio e seu próprio peito começava a queimar, pois tudo aquilo fazia inconscientemente “esquecer” de respirar.

Albior não sofria nada, pois ele estava no “olho do furacão”, o golpe dele consiste em canalizar toda a fúria da natureza e lançá-la contra seu oponente. Com os sentidos limitados e semi consciente, pouco podia fazer perante a Tempestade Nebulosa de Albior, o Cavaleiro de Prata da Constelação de Cefeus.

-TEMPESTADE NEBULOSA!!!

Toda reação natural em que os ventos pudessem ter controle param durante um instante para se reorganizarem. As correntes de ar em volta de Aldebaran praticamente o paralisam, atuando na direção contraria como uma parede de ferro que igualava a força de Aldebaran deixando uma estátua viva. Enquanto, metros à frente, um principio de furacão se formava sendo canalizada pela força de Albior, que era assustadora, uma força digna de um cavaleiro de ouro.

Enquanto isso, Aldebaran sabia que estava com sérios problemas, subestimou em um instante o adversário e estava entre a vida e a morte. Isso logo teria um fim...

********
Kamus não queria, mas teria que o fazê-lo. E com um movimento de mão, ele criara uma ventania que jamais a natureza criaria, mesmo a natureza fria do local, ela tem mais compaixão que Kamus. Cristal, em um movimento explosivo se joga para trás, sendo ainda mais rápido que a própria tempestade do Aquariano.

Cristal era muito veloz, até mais mesmo do que a tempestade criada pelo mago do gelo do Santuário. Ele deslizava sobre o gelo, como se tivesse patins, mas estava apenas com a armadura. Da tempestade saíram estacas de gelo em direção do cavaleiro de prata, o qual desviava com manobras dignas de contorcionistas, chegando a usar uma das mãos no chão, deslizando velozmente pelo deserto de gelo.

Com um movimento de pulso e o dedo indicador apontado para cima, estalagmites surgem do chão como uma ordem dada pelo próprio cavaleiro de ouro. Eram grandes como prédios de três andares com pontas de lança que cresciam no mesmo instante.

Mesmo assim o cavaleiro azul desviava-se prevendo apenas com um mínimo de intuição, onde elas cresceriam. Seus movimentos eram flexíveis, rápidos e únicos, deslizando para longe de Kamus, onde sua influência sobre o gelo poderia diminuir. Não parecia fazer esforço nenhum, ia velozmente apenas desviando como se não houvesse atrito, desviava de costas para não perder Kamus de vista.

Kamus via a disposição de treinamento de seu antigo pupilo, Kamus era o tipo de cavaleiro manipulador de área, transformando a paisagem em volta a seu bel-prazer. Já Cristal era do tipo tático, usava de técnicas inusitadas para imobilizar e minar as forças de seu inimigo. Kamus nunca realmente viu Cristal usar suas técnicas, mas o cavaleiro de prata já viu grande parte de suas técnicas, senão todas.

Com mais um movimento de mão e um aumento de cosmo surpreendente o cavaleiro áureo consegue criar uma área enorme de estalagmites gigantescas, as quais pareciam querer alcançar o céu, mas Cristal não se abalava, parecia que ele esperava isso de seu mestre. E continuava sua patinação artística que um erro iria causar sua morte.

Com um movimento de mãos horizontal, as estalagmites criavam estalagmites, menores e mais afiadas, que em saltos acrobáticos com uma velocidade assustadora Cristal ainda conseguia fugir. O cavaleiro do ártico parecia uma bala ricocheteando, em cada local em que pudesse tocar, mas sem perder o mínimo de velocidade. E começava a subir, sendo perseguido pelas lanças de gelo recém-criadas.

O cavaleiro de Cristal conseguia sair da cidade de estalagmites. O que era o plano de Kamus. Cristal voa como se tivesse asas, apenas com um mero impulso de cosmo e ainda não tirava os olhos de seu antigo tutor.

Kamus erguia o braço com a mão em uma posição de ordem para algo se levantar. O gigantesco império de estalagmites de Aquário se tornava uma cidade-monstro, onde as estalagmites cumpriam seu trabalho como presas, garras e carapaça em um corpo gélido; o qual avançava para devorar o inimigo de seu criador.

Cristal aumentava seu cosmo e usava-o como impulso para fugir da monstruosidade criada por um cavaleiro de ouro. Canalizava no braço esquerdo, o Pó-de-Diamante, como uma mordaça para o monstro que o atacava. Para no mínimo, descer em segurança.

Pousando no chão, via uma abertura direta para o corpo de Kamus, do flanco esquerdo do monstro. Um caminho fácil para a vitória. E o cavaleiro de prata avançava com a espada de Cristal para cima de Kamus.

Era o plano de Kamus.

E no caminho de Cristal surgia uma segunda cabeça, como a de uma hidra, no caminho de Cristal. O devorando. No segundo seguinte, o monstro começa se tornar uma esfera de gelo, com um brilho dourado. Prestes a explodir. O cavaleiro da décima primeira casa zodiacal com um estalo de dedo explode a prisão de gelo, diluindo seu discípulo em neve e gelo. E com uma explosão que refletiu uma gigantesca aurora boreal na Rússia.

Kamus lamentava que logo um guerreiro do ártico, logo seu discípulo, logo alguém tão próximo fosse um rebelde do Santuário. Era algo que no fundo deveria fazer sentido, a proximidade de um cavaleiro de ouro; mas era impossível Cristal ser um traidor. O cavaleiro de ouro soltava uma de suas poucas lágrimas que congelavam e viravam pó logo em seguida. E abandonava a terra que agora era o túmulo de um traidor.

Ao se virar para ir embora daquela terra cheia de lembranças, tanto boas quanto ruins, lembrava também de todo potencial que Cristal possuía, quase era possível o sentir alcançando o sétimo sentido. Na verdade, era possível até sentir o cosmo dele chegando ao sétimo sentido. E houve uma explosão vinda debaixo do gelo.

Kamus viu tudo em um flash sem reação, seu discípulo aparecendo do gelo emanando o sétimo sentido como um real cavaleiro de ouro, e com a espada de Cristal trespassando seu peito, ignorando a armadura de ouro de Aquário e seu cosmo protetor. Cristal aprofundava tanto a espada que seu punho chegou a entrar no peito de Kamus.

O cavaleiro de ouro, nunca foi tão ferido. Não conseguia racionalizar a cena, a dor, tanto física quanto emocional, era enorme. Cristal tinha nos olhos a tristeza de uma criança por ferir seu mestre e a certeza de um cavaleiro de Athena que luta pelo seu nome. Antes que Kamus pudesse pensar em algum contra-ataque, o cavaleiro da Coroa Boreal salta para longe.

Kamus tira a lâmina de seu peito e tentava controlar o desespero irracional de sua mente. Voltava a olhar para seu oponente, e novamente entrava em desespero.

Via Cristal com os braços erguidos e as mãos juntas como uma oração. Reconhecia a posição, não era uma prece de vida, mas um pedido de descanso eterno ao oponente. Era a Execução Aurora, o golpe máximo dos Guerreiros do Ártico. Quando as partículas e moléculas cessam seu movimento com o poder do gelo eterno. Alcançados apenas por aqueles que dominam o sétimo sentido, e seu ex-discípulo cumpria os pré-requisitos para isso.

Kamus se colocava na mesma posição, mesmo com o peito transbordando sangue, Cristal tinha diversos ferimentos que fariam cavaleiros de prata agonizar. Ambos defendiam a vontade da Athena que acreditavam e preparavam seus golpes com todo o cosmo que suas almas e seus corpos podiam produzir.

- EXECUÇÃO AURORA!!! – O grito mútuo foi dado pelos dois guerreiros do Ártico.

E as rajadas áureas se encontram produzindo um clarão...

*******

O golpe resultante na ilha de Andrômeda eleva destroços ao chão, que logo seguinte à gravidade tratava de trazer de volta. Quase que um quinto da ilha havia desaparecido, toda a biodiversidade daquela região havia sido violentamente morta, as mais próximas foram simplesmente destruídas sem vestígios de sua existência.

Quando os destroços daquela parte da ilha caíram finalmente e a poeira baixou, Aldebaran estava em pé ileso, e ainda com seu elmo na mão esquerda e com o braço direito tencionado e com a palma da mão aberta, e a partir de dois metros distante da palma da sua mão começava a linha de destruição se ampliando, onde deveria estar o cavaleiro de prata.

Partes das correntes pertencentes à armadura de Cefeus estavam destruídas aos montes, a maior tinha apenas três elos juntos, e várias partes da armadura espalhadas, mas que não dariam para encher um copo, mas nenhum sinal de Albior.

Aldebaran limpava os olhos que antes vertiam sangue como se nada tivesse acontecido e estalava os ossos do pescoço que o incomodava devido à tensão que sofrerá. Achara seu adversário distante dali, escondido atrás de uma rocha do outro lado da ilha. Que em um piscar de olhos se desloca para lá.

O mestre da ilha de Andrômeda estava apenas com as pernas da armadura em seu corpo, e mesmo assim não era nada agora além de um peso desconfortável, seu braço esquerdo tinha uma fratura exposta, um osso que se rompeu quando sua tempestade nebulosa falhou para o Grande Chifre do cavaleiro de Touro. Mesmo assim se considerava um homem de sorte, se não fosse a tempestade nebulosa, a defesa nebulosa e a própria armadura de Cefeus, seria pulverizado.

Suas costelas haviam se partido também, não conseguia respirar normalmente, tinha que respirar diversas vezes e de forma chiada. E o sangue não parava de cair, não de forma letal que o matasse de hemorragia naquele momento.

-Então essa é a diferença real dentre os cavaleiros de prata para um cavaleiro de ouro. –Falava para si mesmo, tudo que vira antes de sair do caminho do golpe do cavaleiro de touro era ele levantando e abrindo a gigantesca palma da sua mão, quando não devia se mover, devido aos golpes que lhe dera e devido aos efeitos das correntes de ar. Só havia uma explicação para aquilo...

-Não usei minha força total no começo de nossa luta. –Aldebaran aparecia respondendo a dúvida que estava transparecendo na face de Albior, e foi o erro de Albior, não considerar que ele iria usar todo o seu poder para combatê-lo. –Declara-se vencido?

-Sim, acho que pelo menos posso morrer em paz. Só prometa-me que não irá matar meus discípulos. –Sua única preocupação era com seus discípulos naquele momento. Aldebaran poderia facilmente alcançá-los e matá-lo.

-Minhas ordens eram apenas para eliminá-lo e destruir a ilha, mas já que eu venci e você mal pode se mover. Pode me explicar porque vocês são os “traidores”? Já que até agora quem atacou foi o Grande Mestre e não vocês! E por favor, desde o começo... –Aldebaran sentava-se para ouvir o relato de Albior, e aproveitava para cuidar dos ferimentos mais graves.

Um sorriso surgia do rosto ferido de Albior, pensando que todos os elogios de caráter feitos a Aldebaran eram mera especulação diante a pessoa. Albior resolvera que iria contar cada detalhe de tudo que ele sabia...

******

Kamus despertava, caído no chão com o ferimento sangrando menos devido ao frio e a própria armadura usando seu cosmo para cicatrizar o ferimento. Não conseguia sentir dor, seu corpo estava anestesiado. Ao levantar um pouco mais a cabeça, via seu amigo congelado em uma esfique de gelo com a armadura de Coroa Boreal, que tinha o formato de um cristal de gelo em forma de estátua, na mesma posição da Execução Aurora.

O cavaleiro de ouro se arrastava até chegar a escultura de gelo que se tornou Cristal. Subia agarrado na rocha de gelo eterno e cristalino, como se sua vida dependesse disso, tudo isso para poder ficar em pé e olhar para o cavaleiro de prata. Olhando seu rosto de seu ex-oponente, via tristeza, determinação e o sentimento de dever cumprido.

- Valeu apena? VALEU A PENA, KURT? – Kamus batia no gelo em uma tristeza sem razão. Batendo naquele que seria o exemplo do que seria dos traidores de Athena e ao mesmo tempo, o que um cavaleiro de Athena é capaz por sua fé.

Longe dali, aplicando diversos socos na imensa rocha de gelo. Acompanhando a morte de seu mestre por seu cosmo, coberto de gelo, lágrimas e sangue; Jacob quebrava o gelo, encontrando o testamento de Cristal e suas últimas ordens...

******

-Mu de Touro? Esta me confundindo. –Realmente era Mu, mas ele mesmo não entendia essa confusão.

-Desculpe, pelo coração bondoso e por ser inoportuno pensei que você era o Aldebaran, agora, se não se importar, posso continuar com o meu serviço? –Ele forçava o próprio braço, sentindo que estava mais frouxo pela simples confusão de nomes, sabia como lutar contra Lemurianos, afinal foi treinado por um e já matou um.

-Sinto que não vou poder fazer isso, até porque não posso deixar outra pessoa morrer. –Mu ainda lembrava de Esmeralda de Fênix que lutou bravamente contra um cavaleiro de ouro, mesmo sabendo que não ia vencer, não quis que aquela cena se repetisse.

Shunrei começa a flutuar para longe de Máscara da Morte, sendo colocada ao pé da cachoeira. O mestre Ancião suspira em alivio, Máscara da Morte agora terá que destroçar mais uma pessoa, mas não ali e nem agora. Ele era um homicida, mas dois cavaleiros de ouro era burrice enfrentar.

-Está bem, mas da próxima vez não haverá impedimentos... –Uma abertura surge atrás do cavaleiro italiano, guiando para o mundo dos mortos. -... E isso vale para os três. –Após entrar em seu mundo mórbido a fenda desaparece, deixando apenas arrepios assustadores na mente e na carne dos dois cavaleiros de ouro e de Shunrei.

Todos os três, sem exceção, respiram aliviados, porém com um pesar no coração, sabendo que quando pudesse iria cumprir sua promessa.

-Desculpe pela entrada assim, Grande Mestre Ancião. –Mu se curvava em respeito ao cavaleiro de Libra, que em sua cabeça era o atual Grande Mestre, e por mais que ele mesmo coordenasse os outros cavaleiros da rebelião, ele era a figura máxima, há quem ninguém poderia desrespeitar e qual a autoridade não havia par ou ao menos a qual ninguém ousaria questionar.

-Eu que agradeço, jovem Mu de Áries. Você salvou Shunrei e salvou-me de descumprir de meu dever sagrado. E salvou o próprio Máscara da Morte, deu mais um dia para ele se arrepender de seus pecados, ou mesmo para se perdoar de suas mágoas. –Eram as palavras sabias do Mestre Ancião, parecia que de alguma maneira ele conseguia ler os corações e as reais intenções de uma pessoa, vendo através de gentilezas, máscaras, bloqueios. Como uma simples definição do que era bom e mal e ainda conseguia enxergar suas nuances. –Mas acho que você não veio apenas para o meu socorro.

-Novamente o senhor tem razão, vim trazer os relatórios sobre os nossos avanços...

2 comentários:

  1. Argh, terceira vez que eu tô fazendo esse comentário, sorte que eu sou brasileira XD

    Enfim, mó orgulho do dad D., mostrando que leu Episódio G a ponto de botar no Garan na história! *_*

    É triste que parece que a maior parte dos organizadores da rebelião(senão todos) vão morrer antes de aceitarem e assumirem a Hana como Atena T_T

    E o Kamus não sabia da história por trás da rebelião no começo da história quando foi visitar o Isaak? Eu jurava que sim. õ.Ô *se embolou*

    Mas foi muito bacana a luta do Aldebaran com o Albior, principalmente o final \o/ (Tinha que ser taurino, né?XD *puxando saco do pai*)

    Tenho um pouco de pena da Hana que tá muito mais perdida do que todas as outras Atenas divulgadas. Até mesmo a Saori teve mais oportunidades pra respirar e absorver melhor os fatos. Mas a Hana por estar no meio do fogo cruzado não pôde. XD

    Se eu deixei passar alguma coisa do que eu pensei, não ligue, é a terceira tentativa de fazer um comentário desde que eu li esse capítulo e provavelmente eu esqueci de falar de algo importante ^^

    Correrei para o 12 \o/

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  2. Sobre o Kamus, ele não sabia porque ele não leu a mensagem que foi entregar, na verdade só Cristal estava envolvido na rebelião... Ele só foi ver o Isaak conquistando a lendária armadura de Cisne.

    E sim, to misturando tudo de Saint Seiya, mas bem ao seu tempo... Tanto que no capitulo 00 dá pra ver uma referência ao Lost Canvas bem de leve...

    Aldebaran é um cavaleiro de bom coração, mas do que ninguém ele quer saber o que se passa nessa "Guerra Civil"

    A Hana é a Athena mais perdida ever! A coitada tava fazendo faculdade, cuidando da floricultura da familia dela... De repente ela é Athena?! O___O' Até eu ficaria perdido... rs

    Veja pelo lado bom, a "Resistência Aioros" é bem mais organizada do que o "Seiya e os Outros"

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