Alma Nova 16 – Mulheres de Athena
Pandora se encontrava em uma sala escura e sem paredes, sabia que não era a escuridão da mansão do Amaniya, eram trevas que existiam apenas em lugares que não pertenciam ao ser humano comum. A única coisa iluminada naquela sala era ela mesma, sem máscara, apenas com vestido negro que possuía uma nuance roxa. Não era sua habitual roupa de treinamento, mas sim uma vestimenta bem gótica como se ela sempre fosse a sacerdotisa de Hades.
Mas ela sabia que essas viagem, fossem projeções ou mesmo sonhos, não eram mera coincidência para ela apenas acordar dizendo “tive um pesadelo”. Geralmente, esse tipo de coisa era uma premonição ou mesmo um contato com entidades de outros planos.
- “Porque você me usa...” – ecoava uma voz de todo lugar da sala de trevas. Nunca ouvira aquela voz, e nem lhe era familiar. Tudo que sabia era que se tratava de uma voz feminina, sofrida, como se já tivesse presenciado muitas dores.
- Quem é você, o que você quer de mim? – Gritava Pandora, que sabia que enquanto ela ficasse onde quer que estivesse, estaria sob a mercê dessa entidade.
De repente, as sombras tornam-se matéria e a atacam. Quando nota, seu vestido estava rasgado e ela atada pelo pulso, tornozelos e pescoço, sem ao menos saber quem era que estava lhe proporcionando tamanho sofrimento.
- “Usa-me, obriga-me a lhe proteger e nem faz ideia de quem eu sou? Isso é ultrajante!” – O sotaque era grego, mas muito arcaico, e tinha um toque de orgulho e humildade tênue.
- Andrômeda?! – Forçava a palavra sair por sua boca, quase escorregando novamente para a garganta.
- “Exato, sou eu.” – Aparecia iluminada, uma mulher loira de rosto doce e encantador, mas sofrido por vários hematomas. As correntes de ouro e prata que a prendiam faziam um pentagrama e uma “estrela de Davi”, símbolos que Pandora reconhecia muito bem. – “Você fez isso comigo quando me obrigou a protegê-la. Eu tenho que sofrer calada protegendo uma traidora de Athena, invejo as outras armaduras...”
Pandora sabia onde estava, era o limite de consciência entre ela e a armadura, era a área de harmonização entre a armadura e um cavaleiro. Para qualquer cavaleiro, era mostrado como o universo, mas para ela era uma sala escura sem fim e sem luz com uma mulher atormentada.
- Acha que eu também queria estar aqui? Também estou atada pelos mesmos deuses que a amarram, mas ao contrario de você eu tenho que esconder quem eu sou, eu tenho que tomar qualquer decisão, a qual pode ocasionar a minha morte. – Pandora tinha que convencer Andrômeda a trabalhar junto com ela. Fosse ela uma sacerdotisa de Hades ou uma amazona de Athena.
- “Então morra! Seja humana, morra sendo você e não esteja atrelada a qualquer destino. Você é um desperdício do dom do Livre-Arbítrio”
Pandora sabia que se “morresse” ali, sua mente seria destruída e seu corpo seria apenas uma carcaça vazia e funcional. Teria que lutar contra a sua armadura para manter sua vida, mas não fazia ideia de como fazer tal façanha. Decide fazer algo que nunca fizera...
*****
Shina estava ferida com o desmoronamento, não esperava realmente que o discípulo de Marin estivesse em companhia daquele outro cavaleiro que manipulava o gelo, e ainda houve aquele cavaleiro negro que só serviu para atrapalhá-la. Que Amazona de Prata era ela para ser derrotada duas vezes pelo mesmo cavaleiro de bronze? Tudo que pensava em fazer era recuperar as forças para, logo em seguida, arrancar a cabeça de Thouma, e depois a de Marin.
Sentia muitos cosmos naquela noite cheia de estrelas, via até um corvo cruzando a noite. Estava em um lugar bem isolado, em um armazém abandonado. Verificava se não havia algum ferimento mortal e fazia uma série de testes de movimentos e pressões para descobrir se não havia uma lesão mais grave.
Já havia mais de quatro horas que estava lá e o dia nem ameaçava aparecer, já sentia que podia se movimentar melhor, só não poderia ir novamente ao ataque. Viu que seu erro nas duas vezes ao encontrá-lo era o fato de subestimá-lo e de não ter planejamento. Tinha que parar de pensar pelo impulso e colocar sua vida nos eixos, seu orgulho de amazona estava em jogo.
- Finalmente te encontrei. – A voz era conhecida, mas seu cosmo parecia ter surgido naquele instante. Se Shina se orgulhava de uma habilidade era a de rastrear cosmos. Havia poucos que conseguiam ludibriá-la e ele era um deles.
- Spartan, o que faz aqui? – Sua velocidade era a maior entre os cavaleiros de prata, era capaz de se tornar apenas um borrão a vista do oponente, e ela sempre tinha a impressão que ele chegava antes mesmo de seu cosmo. Ele estava em uma das vigas no teto parcialmente iluminado.
- Acredite ou não, lhe caçando. Você já está sendo considerada como traidora do Santuário, sabia? – Spartan era rápido com as palavras assim como era com o seu corpo, e nem ao menos preparava a amazona para a noticia.
- Como assim, eu uma traidora? Eu treinei diversos cavaleiros e soldados do Santuário, sou uma amazona de prata. Vim aqui à caça do desgraçado do irmão da Marin que veio para cá com a armadura de Pegasus, Docrates estaria decepcionado comigo se eu não fizesse isso por Cassius. Devo-lhe a vida desde aquela Nova Titanomaquia, é o mínimo que devo fazer.
- Docrates está morto. – Novamente o cavaleiro de bussola joga a verdade sem medida em Shina.
- Como assim, Docrates está morto? ME DIGA, SPARTAN!
- Muitas coisas acontecem em quatro horas. – Spartan respirava fundo como se tomasse um longo fôlego. – Um grupo de cavaleiros negros se associou a Resistência Aioros, e ao que parece, Docrates também era um traidor. Thouma foi um dos cavaleiros mandados para cá, junto com outros cavaleiros de bronze. Todos foram mortos por esses cavaleiros negros e a Resistência Aioros, e Shaka de Virgem aniquilou todos os cavaleiros negros. Para abafar o caso, foram enviados cinco cavaleiros de prata para cá, Asterion, Babel, Marin, Misty e Moses. Nenhum retornou, estão achando que foi você que os eliminou.
Era informação demais. Os cavaleiros de prata eram muito unidos, mesmo com a rivalidade que tinha com Marin. A segunda hierarquia poderosa do Santuário tinha uma cumplicidade e respeito mútuo, ao contrario da hierarquia de ouro. Os cavaleiros dourados pareciam não se importar de não se conhecerem ou mesmo de começar as “Guerras dos 1000 dias”.
- E o que você pretende fazer quanto a mim, Spartan? – Shina já se colocava em posição de combate, não era uma traidora, mas não iria recusar uma luta para limpar sua honra.
- O que eu pretendo? – Praticamente se teleportava para o chão, sem chance alguma de ser seguido pelos olhos. – Sou simplesmente um mensageiro, apenas vou reportar que encontrei você, não agora, primeiramente para os outros verem o que está realmente acontecendo.
Shina sorri por debaixo da máscara, sabendo que ela mesma iria se vingar de muita coisa e que ainda voltaria como heroína para o Santuário e não como uma traidora.
*****
Lynna estava apreensiva por ter feito o que fez com Pandora, a única com armadura para proteger Athena estava imersa em confronto com sua armadura desde que ela lhe tinha confidenciado que a armadura de Andrômeda não estava respondendo a sua sincronia cósmica. Estava com medo de a armadura rejeitá-la e querer matá-la, com já ouvira lendas de que isso acontecia.
A sacerdotisa sentia que Pandora não era como os outros servos de Athena. Sentia que não tinha a deusa em seu coração preenchendo todas as suas dúvidas. Com ela, sempre havia algo para esconder, mesmo quando estava sozinha. Como se seu segredo fosse um cristal que se tocado pela luz do sol fosse rachar. Claro que todos têm segredos, mas o melhor a fazer com eles era enterrá-los no fundo de seu âmago, e não aparentar que estava escondendo-os a todos.
Como líder operacional da Resistência, a mais importante frente da resistência já estava fragmentada. Os que guardavam Athena estavam feridos e sem armadura, os melhores combatentes e em um estado melhor tinham saído para restaurar as armaduras. Tudo dependia no final das contas de Pandora defender Athena.
Percebe que o cavaleiro de Cisne brigava com seus olhos para mantê-los abertos. A iluminação o machucava, mas a luz do sol era revigorante para ele.
- Por Athena, você está vivo. – Sorria de felicidade, era um sinal dos deuses que tecem o destino que as forças da Resistência estavam regressando.
- Quem é você? – Perguntava com uma voz que quase não saiu. – Onde está Pandora e os outros? E Hana?
- Realmente, temos muito que conversar... – Logo após dizer essas palavras, olha para Pandora deitada na cama totalmente atada as correntes de Andrômeda que se moviam aos poucos, mas continuamente...
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A Ilha Kanon era uma das poucas ilhas civilizadas na região do Oceano Pacifico. Possuía um povo temente a religião dos deuses do Olimpo, pois aquele lugar era uma lenda entre os próprios cavaleiros. O vulcão que lá existia tinha propriedades curativas para as armaduras e até mesmo para alguns ferimentos dos cavaleiros.
Talvez aquela ilha fosse o resquício de Lemuria, o lugar mítico que o povo escolhido de Athena, os Lemurianos, tinha como terra natal. Há muitos anos, diziam existir um demônio que guardava o vulcão, que o mitológico cavaleiro de Pegasus domara, mas aquelas eram histórias apenas que ecoavam das bocas desdentadas dos velhos para as mentes férteis das crianças.
O clima era implacável para aquele povo, mas naquele dia parecia que Apolo testava seus limites para a desidratação. Na praça da cidade, onde havia uma estátua de Athena, começava um incêndio, que queimava a partir de nada. As chamas simplesmente surgiram, as crianças correram para suas mães, e velhos diziam que era a volta do demônio da ilha Kanon. Porém, ninguém conseguia chegar perto do local devido ao calor que de lá emanava. Alguns poucos tentavam jogar água, mas ela evaporava antes de chegar a seu destino.
As chamas começavam a ganhar forma. O que era estranho é que ela começava a ganhar uma estrutura sólida. A forma aparecia como um esqueleto em chamas, o que comprovava àqueles aldeões que era realmente o Demônio da Ilha Kanon voltando. Eles sabiam em seus estômagos.
O esqueleto com ossos em brasa olhou em volta, olhou para suas mãos, e gritou com uma voz aguda e profana que fez todos os aldeões correrem, menos o sábio da vila que olhava curioso a vinda daquela lenda. Na verdade, ele sabia que não havia para onde correr, parecia que era o único que reparava que o vulcão respondia ao grito dele.
Ao olhar para o corpo em brasas, o esqueleto gritou mais uma vez e o vulcão respondeu novamente com um tremor. Então, o esqueleto explodiu em chamas e só sobraram cinzas. Apenas o velho homem olhava para aquele acontecimento e sorria. Juntava as cinzas que foram formadas.
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Pandora respirou fundo, sabia que cada palavra poderia ser a última. Aquela Andrômeda estava cheia de rancor no coração. Era difícil usar qualquer palavra aduladora quando todas soavam como um fio de lâmina em ataque. Já que cada palavra lhe soaria falsa, resolveu pelo menos dizer a verdade para ela.
- Sou mesmo uma traidora, seja de que lado for. Eu deveria ter matado Athena naquela montanha, eu deveria não sentir nada por um inimigo, eu não deveria me sentir tão manipulada pelo meu Deus-Patrono. E eu sinto tudo isso, me sinto sufocada sempre. Servir a Athena e protegê-la parece infinitamente melhor do que aqueles gêmeos que nos forçam. – Pandora sabia que agora também podia morrer pelos pensamentos de Hypnos e Tanathos. – Se você me matar me fará um favor.
Esperou o esmagamento de sua garganta e de seus membros sendo arrancados, mas isso não aconteceu. Sentiu um sentimento de pena das faixas de trevas que a prendiam e que levemente a soltavam.
- “Você também foi entregue ao sacrifício, Pandora. Esse é todo o destino de quem me usa, ser mártir de uma causa, vai caber a você decidir quem vai ser dono de seu martírio. Enquanto você servir a Athena eu a servirei, mas serei eu que a matarei.”. – Andrômeda dizia isso como uma profecia, tudo que Pandora podia fazer era aceitar seu destino.
Pandora acorda de seu transe suando e tremendo, e logo em seguida sentido cosmos hostis a sua volta...
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De volta ao seu mundo de breu, onde ela não tinha corpo, ela sonhou que via seu esqueleto em brasas, era tão real, as chamas a queimavam, mas era uma boa sensação apesar de tudo, melhor do que a inabilidade de fazer algo naquele mundo de trevas. O mais estranho era o velho que via nesse sonho nunca o conhecera, nunca o vira. O sonho parecia mais real que aquela vida no breu eterno onde se encontrava.
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A sacerdotisa de Athena, e ao mesmo tempo sua mãe, havia acabado de deixar os braços de Saga e se dirigia para o Salão de Athena. Esperava que Maya encobrisse seu rastro e que Romeu distraísse todos ali presentes com sua música. Aqueles cavaleiros de prata que a protegiam eram a coisa mais próxima que tinha de família. Só eles entendiam sobre destino e fardos. Nascer só para um objetivo e morrer por ele. Abrir mão de seu livre-arbítrio por livre-arbítrio era uma ironia cruel.
- Então, Saga está por lá? – A voz de repente a assustou, estava perdida em seus pensamentos e devaneios. Era Aioros, o outro cavaleiro de ouro. Aquele que havia tirado a oportunidade de Saga e ela criarem sua filha juntos.
- Como me descobriu aqui?
- Sou um cavaleiro de ouro, e um nômade que procura ou procurava cavaleiros em potencial. Achar um cosmo de um cavaleiro de ouro completo e de meu melhor amigo é bem mais fácil. – Sorria de um jeito que era impossível não se derreter por aquele jeito honesto e bem-humorado. – Quero falar com ele, não quero esse título de “Grande Mestre”, quero depois de um tempo treinar alguém e viver com a minha família assim como ele.
Aioros tocava o abdômen da Alta-Sacerdotisa de Athena com carinho de um amigo ou mesmo como um irmão.
- O q-que esta fazendo? – Alana corava pela intimidade que ele tinha para com ela sem ao menos se conhecerem bem.
- Mandando boas vibrações para minha sobrinha, já que o considero tão irmão quando meu irmão mais novo. – Era verdade, Alana tinha o dom de sentir emoções e intenções, e as do cavaleiro de Sagitário eram realmente as melhores para com a criança e seu futuro. – Vou agora falar com Saga que renunciarei como Grande Mestre e só haverá ele para me substituir.
A mãe de Athena estava chocada com a personalidade daquele cavaleiro de Sagitário. Ele iria negar-se a morrer pela sua deusa pelo seu amigo, negar a maior glória de um cavaleiro de se tornar o guia de Athena para ser o guia de sua família. Muitos achariam egoísmo, até mesmo Alana algum tempo atrás sem estar com Athena no seu útero, mas achava digno alguém ainda sim pensar na sua família. Sorria, mesmo que não conseguisse Saga como Grande Mestre, Aioros seria um ótimo guia.
Muito boa essa história e a maneira como você conduz o enredo, fazendo uma construção bem lógica dos fatos. Mas cabe uma correção: a estrela usada por Hades e seus discípulos é um pentagrama, estrela de cinco pontas e símbolo do demônio para as religiões cristãs. A estrela de Davi tem 6 pontas e é formada por dois triângulos sobrepostos, ela é símbolo do divino.
ResponderExcluirPoxa, obrigado mesmo pelo elogio. Sobre a questão das “estrelas” estou seguindo a A Saga de Hades com base (por mais que eu prefira Lost Canvas) Tanathos usa o pentagrama negro na testa e tanto que a Verônica usa parte do poder de Tanathos para lutar, Hypnos (deus do sono) usa a estrela de Davi, no mangá, acho que houve censura disso no anime, do mesmo jeito que censuraram a lança que o Ikki lançou contra Pandora!
ExcluirE quem esta prendendo “o espírito da armadura” é Hypnos, pois ele governa o mundo dos sonhos. E vamos a uma curiosidade: a armadura de Pandora é “púrpura” do mesmo tom de uma Sapuri, pois o Hypnos domina a armadura e Tanathos a Pandora. Mas as correntes ainda são brancas, sem domínio dos deuses gêmeos =)
Os links das estrelas dos deuses gêmeos está na seção de curiosidades
http://pt-br.saintseiya.wikia.com/wiki/Hypnos
http://pt-br.saintseiya.wikia.com/wiki/Thanatos