Alma Nova 14 - Trilhando Rumo ao Desconhecido

Naquela caverna obscura onde não havia teto e nem vida, Isaak parecia ser o único a ter uma luz que o rodeava. Andava perdido por aquele mundo até encontrar uma fila de pessoas sem brilho algum, com rostos derrotados, destinos traçados e sem resquício de vontade própria. Queria descobrir até onde iria aquela procissão, sempre tentava falar com alguém, porém apenas recebia um relance de olhar e era sumariamente ignorado.

Passaram-se horas em que ele corria o máximo que podia, via que aquele não era o potencial completo de seus poderes, pois não tinha fome, nem sede e nem cansaço. Perante a fila, observava que todos eram iguais de longe, apesar de serem crianças, mulheres, homens ou idosos. Só realmente se deu conta de onde estava quando encontrou Andromeda Negro, um dos cavaleiros negros com sua armadura em farrapos. Percebeu que também estava morto, apesar de ainda ter aquele brilho em volta dele, o qual ele não compreendia.

Ao longe, no horizonte, viu para onde aquela procissão ia, em direção a uma cratera gigante, que parecia mais uma cidade. Percebeu que aquela não era a única procissão, tinham outras, muitas outras, e todas rumavam para a enorme cratera. Viu ainda uma luz a borda dela e decidiu correr o máximo que conseguia para ver quem era a outra fonte de luz.

- Não esperava vê-lo tão cedo, meu discípulo. – A voz era reconhecível, quase em uma nostalgia recente, se é que isso era possível. Era seu mestre, o Cavaleiro de Cristal, diferente do qual ele conhecia. Tinha uma aparência translúcida com o mínimo de luz possível, menos luz do que ele emanava, mas ainda era muito mais do que qualquer um na fila poderia transmitir.

- Mestre. – A surpresa de Isaak causou lágrimas em seus olhos, mesmo não entendo o porquê delas. Algo dentro de si sabia que tinha de chorar.

- Não se surpreenda. Geralmente os mortos vêm para cá – Cristal sorria por ver que o discípulo tinha chances ainda. Seu cosmo ainda não fora tragado pela escuridão da morte. – E me desculpe por ter jogado você no meio dessa guerra, sua mãe nunca iria me perdoar, o bom é que ainda posso encontrá-la aqui.

- Quer dizer que estamos... – Isaak não conseguia completar a frase.

- Mortos?! – dizia a palavra que o cavaleiro não conseguia pronunciar. – Você, não. Já eu estou preso aqui. Todos os outros estão mortos mesmo.

- E como o senhor chegou aqui? Porque ainda não está no caminho dos mortos?

- Kamus me aplicou a execução aurora, estou congelado eternamente. Eu morri, mas ainda não me desliguei do meu corpo. Só poderei partir, ao que parece, quando morrer realmente. – Cristal mantinha o sorriso, só que o mantinha triste em seu rosto. – Já você deve estar no limiar entre a vida e a morte.

- Como assim? Mestre Kamus o matou? – Isaak estava aterrorizado com aquilo, o mais poderoso cavaleiro do ártico havia matado o próprio discípulo. Sabia que talvez ele mesmo tivesse que enfrentar o próprio.

- Tive o vislumbre da Execução Aurora. E realmente, o poder desse golpe é impressionante, minha imitação foi muito barata. – Cristal apenas soltava sorrisos como se sua vida fosse uma distante nostalgia.

- Mas mestre, porque não me contou que havia uma falsa Athena no Santuário? Porque me omitiu isso? – Isaak soltara a sua dúvida, afinal, estava entre a vida e a morte devido apenas a sua fé repentina em Hana ser a real Athena.

- Explicar-lhe isso era complicado. Você foi educado honradamente, vivendo à sombra das lendas dos cavaleiros, das histórias do santuário. Como eu iria explicar a você que isso que você aprendeu era o ponto de vista infantil? Imaginar que nós cavaleiros somos movidos apenas pelo certo e correto é uma visão limitada, meu discípulo. Como eu iria explicar-lhe que uma pessoa nascida para proteger Athena tentou matá-la? Para falar a verdade, nem eu mesmo acredito no que aconteceu comigo, Albior e Marin... – O sorriso nostálgico desfazia-se no rosto de Cristal, para uma face séria de alguém que se lembrou de um pesadelo. – Acreditar em Athena é questão da mais pura fé. Não há razão que ligue fé, razão precisa de conhecimento, fé necessita de crença. E também, Mikkeli nunca iria me perdoar em ver você usando uma armadura do zodíaco. Preferia envolver Jacob a você, não tive culpa do universo conspirar contra as minhas promessas.

- Mikkeli... – Cisne repetia o nome. A última vez que ouviu esse nome não foi uma lembrança boa e nem agradável. Seu mestre tentava se desconectar desses sentimentos. Ser um guerreiro do gelo envolvia ter a maior concentração possível, seja esquecendo o passado, sendo “sangue-frio” ou vivendo pela razão. O próprio Isaak era um guerreiro do gelo devido a sua honra ser uma geleira eterna. Quanto mais questionamentos e sentimentos envolvessem os cavaleiros do ártico, mais seu poder seria diminuído.

- Agora chega de nostalgia e vamos cuidar do futuro...

*****

Garan já havia partido, deixando os cavaleiros de bronze sob a tutela espiritual de Lynna. Sentados na sala, alguns cavaleiros foram surpreendidos por um barulho enorme que vinha do andar superior, barulho esse que fez até mesmo Kiki acordar de seu sono. O barulho viera diretamente do quarto de Thouma onde a governanta do Orfanato estava também.

Okko foi o primeiro a subir, mas Kiki chegou primeiro graças ao seu dom de teleportação. No caminho, encontravam Shiryu, que corria também para a mesma direção. Shun, Hana e Lynna foram por último.

- Droga! Estamos suprimindo nosso cosmo ao máximo e esses cavaleiros do Santuário já nos encontraram? – dizia Okko praguejando.

- Não. – dizia Shiryu. – Não sinto nenhum cosmo além do nosso.

Quando todos chegaram à porta do quarto, encontravam Mihu sendo surpreendida por Kiki, que tentava acalmá-la de sua súbita aparição. Okko já planejava entrar chutando a porta, mas a jovem se interpôs.

- Não. Por favor, ele está descansando. – dizia Mihu implorando.

- E o barulho que ouvimos? – Perguntava Okko preocupado com a segurança do companheiro.

- Foi ele mesmo. – Explicava Mihu. – Ele acordou gritando, lançou uma energia contra a parede e desmaiou novamente.

- Deve ser o golpe que ele recebeu da Fênix. Aquela demônia realmente era poderosa. – Okko lembrava-se de Esmeralda e pensava o como ela seria importante para a Resistência. Tinha a força de um cavaleiro de prata ou quem sabe de um cavaleiro de ouro. Sua fraqueza era só sua mente perturbada.

- Devemos deixá-lo sozinho, certas cicatrizes é melhor deixar o tempo cuidar. – dizia Shiryu, que apesar de cego parecia olhar nos olhos de Mihu.

- Mas temos uma sacerdotisa, ela pode pelo menos cuidar melhor dele do que qualquer um de nós. Certo, Lynna? – O cavaleiro de Dragão se voltava para a Sacerdotisa buscando apoio.

- Por favor, Lynna. – dizia Hana. – Se pode fazer algo por Thouma, faça. Ele está assim por minha culpa. Ajude-o.

Lynna sentia a preocupação genuína vinda de Okko, e era a mesma que vinha de Mihu, mas por algum motivo, Shiryu apoiava esta, além de não ter querido que ninguém atravessasse aquela porta segundos antes, mesmo com o pedido da própria Athena. Shiryu tinha um espírito sábio, e cavaleiros e sacerdotes pensavam diferente. Por ela, iria cuidar de Pegasus, porém achou que o melhor seria um...

- Não, por enquanto. Tenho que esperar que ele supere isso sozinho e qualquer espasmo desses de novo pode ser a morte de qualquer um de nós. Mihu já deve ter cuidado das suas feridas físicas, agora as mentais e espirituais devem começar dele mesmo. – Lynna vira Mihu suspirando de alivio enquanto todos olhavam para ela, e o jovem cego aprovava com um sorriso.

Okko e Hana olharam com um misto de decepção. Sabiam da arrogância do cavaleiro de bronze a pedir ajuda, apesar da pouca convivência. O ego do ruivo já era conhecido por todos.

- Tudo bem, admito que Isaak está pior que Thouma. – dizia Okko reparando em alguma coisa. – Onde está Pandora?

- Pedi para ela cuidar de Thouma. Se estivessem atacando os nossos feridos, Isaak seria o próximo alvo. – Okko começava a se irritar com Shiryu, ele estava certo, essa era a melhor solução. Ele teria que ficar embaixo, cuidando de Athena, Shun e Lynna.

- Tem razão. – dizia Okko inconformado.

- Peço que me deixem ver como está Isaak; mestre Shun e a senhorita Hana descansem, e, Kiki, vá com eles; Okko, você que está em melhor estado entre os cavaleiros, peço, por favor, que cuide de nós; Shiryu, você deve descansar também, você e Kiki também lutaram, e prefiro que você faça isso junto de Isaak. – Cada ordem de Lynna era como um pedido que devia ser obedecido de tanta serenidade e preocupação que ela passava. Era quase como Hana pedindo algo.

*****

Thouma, aproveitando a deixa de estar praticamente sozinho depois da discussão sobre quem estava em melhor estado, sai com cuidado, apesar de cambaleante, pelas ruas de Osaka apoiando-se da melhor forma que podia. Era difícil caminhar e respirar ao mesmo tempo, ele tentava realocar algumas costelas, do modo que podia, para não sentir tanta dor, o que era impossível, mas teria todo um caminho para se acostumar com os incômodos que sentia.

Pensava como lutar contra dois cavaleiros de prata sem armadura, se ele tentasse pegar a armadura de Pegasus, provavelmente seria detido, ou pior, faria com que todos quisessem enfrentar mais cavaleiros de prata. O tal de Shiryu podia ter derrotado um cavaleiro de prata sozinho, mas ele não era apenas puro combate, havia invadido sua mente, manipulado-a como uma massa de modelar. Além de tudo, sua irmã estava sendo mantida como refém, uma amazona de prata com uma das maiores mentes analíticas do santuário e peça-chave da Resistência.

Todos do grupo podiam saber lutar, mas apenas ele sabia como era estar atrás das linhas inimigas, ter que se esconder em público, bloquear suas intenções, manipular o próprio humor que naqueles que tem cosmo aflora imensamente, e com cada cavaleiro podendo jogar palavras na sua mente como se estivessem gritando em seu ouvido. Possivelmente, essa caçada repentina fora provocada por Shina, e como ele a deixou viva, era sua a culpa por tudo aquilo estar acontecendo. Então, ele iria resolver o problema e não como cavaleiro ou como membro de uma resistência, mas sim como homem.

Agora ele colocaria a profecia que rege sua vida, ser o escolhido de Athena, ser o cavaleiro que feriu o rosto de Hades...

*****

- Será que o irmão dessa vadia traidora vem logo? – Moses estava impaciente, sua experiência como soldado sabia que uma demora dessas não significa que ele não se importava com sua irmã, significava que estava elaborando um jeito de derrotá-los. Aquela ideia de entrar na mente do cavaleiro era imbecil, existiam cavaleiros que poderiam, com um piscar de olhos, descobrir mais coisas, teriam mais tempo e meios para torturá-la e tirar mais coisas de sua mente. Queria reportar o mais rápido possível para o Santuário seus avanços.

- Fique calmo, meu caro, ele virá e sem avisar a ninguém. Eu deixei o aviso bem claro, e vi que ele tinha um complexo bem narcisista. Ele acha que pode mesmo derrotar-nos, apenas porque feriu alguém superficialmente. Ele deve ter no máximo superado o poder de sua irmã que o treinou, porém Marin nunca foi uma combatente de primazia. – Asterion sorria com toda a tonalidade que o sarcasmo lhe dava. – E ao que eu li em sua mente, estava gravemente ferido. Quero-o aqui mais para ler sua mente, ele transparece bem mais que sua irmã.

Ambos sentiram o cosmo do irmão de Marin se aproximando, mas a essa altura, pelo cálculo mental da intensidade de seu cosmo, a velocidade era humana, o que para um cavaleiro, mesmo um de bronze, era devagar demais.

- Vamos até ele. – dizia Moses.

- Não. Deixe-o fazer seu caminho para o fosso dos mortos, ou como os cristãos gostam de dizer, sua Via Cruzis. - dizia Asterion.


*****

Ares novamente estava em seus aposentos. Sozinho, estudava como fazer o corpo de morada da deusa da discórdia suportar a essência divina. Eris era uma deusa menor, não havia lugar para ela na mesa dos Grandes 12 Deuses, ela não tinha poder suficiente para disseminar sua aura pelo Santuário.

A única armadura que ela conseguia manipular era a de Gêmeos, para que Ares ainda pudesse vesti-la. Toda armadura era um ser vivo, e tinha o poder de decisão sobre o cavaleiro, a qualquer momento poderiam negar-se em ser usadas. O que era um mistério era o porquê algumas armaduras eram usadas...

Mu e Dohko estavam realmente do lado certo, Aldebaran, Aioria, Shaka, Milo e Kamus eram manipulados pelas palavras e cosmo contados. Mas como Máscara da Morte, Shura e Afrodite podiam-se chamar Cavaleiros de Athena? Todos os três eram assassinos a sua maneira, sem amor ou mesmo misericórdia em seus corações.

O que as armaduras pensavam sobre os atos de seus cavaleiros? Ares se perguntava o que a armadura de Gêmeos pensava enquanto havia a “Batalha de Ares contra Saga”. Será que ela não poderia fazer nada para detê-lo? Será que ela era tão ambígua ao ponto de ver o Santuário de Athena sendo tomado por outra deusa? Será que ela aguardava a volta de Saga?

Tirava aqueles pensamentos de sua mente e voltava a pesquisar os inúmeros tomos da história do Santuário. As guerras internas, a história de Aspros e Deufteros, as hipóteses de futuros alternativos nos quais alguns cavaleiros teriam vidas normais, outros possíveis futuros em que quem deveria morrer não morrem, e ainda quando um encontro errado mudava toda a história, mas não achou onde os cavaleiros de Athena veneraram outra deusa.

Claro que havia aqueles que se corromperam, aqueles que decidiram escolher aquele caminho traindo seu destino e sua fé, mas aquilo era único. Substituir uma deusa por outra, usar a fé verdadeira para alimentar uma mentira... Como plantar uma muda de joio entre o trigo, esperando que o joio se torne mais do que o trigo e acabe matando-o?

Queria poder partilhar esse peso, mas isso não era possível, confiar em alguém enquanto a Deusa da Discórdia estava por perto era um pecado mortal. Porém precisava descobrir como evitar, de toda forma, que seus planos acabassem como outras histórias de final previsível onde o vilão é tragado pelas trevas e os “bonzinhos” são coroados com os louros da vitória.

Ares conheceu apenas dois heróis: Aioros, morto por sua ideologia e devoção, e Saga, que foi tragado pelas trevas e deu a vida a ele. Realmente, a história que ele estava escrevendo para o futuro era nova, e ele iria contá-la. Que venham quaisquer deuses, ele iria subjugar a todos. Ares seria o verdadeiro Deus desse Novo Mundo.

*****

Pandora se preocupava com o que tinha acontecido no quarto de Thouma, mas não tinha coragem de abandonar o quarto onde Isaak se encontrava debilitado com o sangue escoando de suas veias. Por mais que soubesse que era para seu bem, era torturante ver o seu sangue descendo e manchando os lençóis da cama, que ela trocava sempre que se encontravam sujos demais. Já era o quarto lençol...

Sentiu o cosmo da pessoa que havia chegado depois que Garan partiu, vinha acompanhado do cosmo de Shiryu. Agora era evidente que ela não era um cavaleiro, era infinitamente pior para ela, era uma das poucas sacerdotisas de Athena ainda vivas. O que mais assustava era que uma delas decidiu se unir a Resistência.

A porta foi aberta fazendo com que Pandora tentasse disfarçar seu nervosismo usando o excesso de cuidados para com Isaak. Ao entrar, Lynna e Shiryu observaram a amazona de Andrômeda levantando-se para recepcionar ambos. Ao se encontrarem, Lynna e Pandora pararam para se olhar, e Shiryu, por mais que apenas visse o cosmo da pessoa, notava que a energia das sacerdotisas era diferente.

Shiryu podia sentir o cosmo de tal maneira que ele via os contornos das pessoas em forma de cosmo. Pandora era lilás, Lynna era um branco-azulado, a sua era verde. Sentia objetos pelo seu próprio treinamento e pelo seu sexto sentido avançado, mas sacerdotisas liam corações, emoções e mentes. Sentia-se deslocado ali entre aquelas duas mulheres.

Ambas ficaram um bom tempo se encarando, sendo apenas interrompidas quando Isaak deu um gemido de dor. Ambas pararam de se avaliar para dar atenção ao cavaleiro enfermo.

*****

Thouma chega à praia ainda com a linha do mar apenas diferenciada pelas ondas. Não conseguia ver sua irmã, mas ele reconhecia a praia, e mesmo que não reconhecesse, estavam lá os cavaleiros de prata que estavam em seus pesadelos. Chegava cambaleante, mas ainda ostentando o orgulho de ser o cavaleiro de bronze de Pegasus em sua postura mesmo que decadente. Asterion estava se segurando para não gargalhar, era risível aquele cavaleiro de bronze contra dois cavaleiros de prata, porém Moses via nos olhos do jovem a obstinação e a tenacidade de quem sabe que tem a possibilidade de vencer. A esperança não havia morrido em seu peito.

- Seus bastardos, soltem a minha irmã. – Fala Thouma que não podia elevar muito mais a voz, sentindo uma de suas costelas produzindo uma dor aguda, mas ainda sim tentava manter a postura de um cavaleiro de Athena.

- Olá, cavaleiro de Pegasus. Thouma, se eu não me engano. – dizia Asterion já esperando ansiosamente para tirar mais informações do irmão de Marin. – Recomendo você desistir, somos dois cavaleiros de prata com uma refém e você é um cavaleiro de bronze sem armadura. Por favor... desista logo, e se entregue.

Moses vira-se para Asterion, sentia raiva de seu companheiro, mas não deixava o sentimento transparecer. Poderia ser perigoso manipular um cavaleiro de bronze, por mais que o mesmo esteja exaurido. Ele conhecera cavaleiros de bronze mais experientes, inclusive seu mestre, que tinha sido um cavaleiro de bronze. Era um erro subestimar um rato, pois quando um rato é acuado ele ataca, e o que era estar mais acuado do que ser um cavaleiro de bronze, ferido e com o único membro da família mantido como refém por dois seres mais poderosos do que ele?

- Devolvam a minha irmã, não me interessa, direi tudo a vocês o que sei. – diz Thouma com certo de ar de sinceridade forçado. Podia ser muitas coisas: uma mentira, uma verdade, uma meia-verdade, mas seja o que fosse, era determinada.

- Perdoe-me se não confio em um traidor que venera o grande traidor, mas se não se importa, vamos extrair da maneira mais convencional que temos de interrogar traidores.

Moses não esperou o telepata acabar a frase, atacou Thouma com um simples golpe com toda a velocidade que podia. Não iria atacar Thouma com sua técnica mais poderosa logo de cara para que ele logo após esquivasse e encontrasse uma brecha. Iria ver do que ele era capaz naquele momento.

Como esperava, com um movimento de giro e leveza, Pegasus escapa do golpe por milímetros e acerta logo em seguida com um chute no rosto o seu oponente, o qual não se move e nem parece sentir o golpe. Thouma faz uma cara de surpresa e se afasta com um chute, enquanto o cavaleiro de Baleia ficava imóvel.

Moses o avaliava dos pés à cabeça, era um guerreiro esguio e tinha uma genialidade no olhar. Sabia que ele não viera sem um plano, nem que fosse a pior ideia, mas ainda sim era um plano. Thouma se colocava em posição de combate, por mais que fosse difícil para ele devido aos ferimentos.

- Moses, pare de ser idiota, precisamos dele vivo! – Gritava Asterion, como se tivesse perdido o controle de seu companheiro.

- “Do jeito que estamos e com a obstinação nos olhos desse garoto, nós que temos que nos manter vivos”. – pensava Moses para Asterion, já presumindo que ele leria sua mente.

- Thou... Ma... – dizia Marin com dificuldade. Asterion sentiu a barreira mental da amazona cedendo um pouco. Voltou-se para sua refém invadindo mais ainda sua mente.

Enquanto isso, Moses olhava para o cavaleiro de bronze. Mesmo sem armadura, um cavaleiro de Athena era letal. Com a armadura servindo apenas como defesa, um guerreiro sagrado podia dedicar-se totalmente aos seus ataques ofensivos e dons, enquanto a armadura usaria seu próprio cosmo para proteger o seu cavaleiro. Era ridículo pensar que apenas placas de metal ornamentadas poderiam proteger alguém, mas não era só isso, eram formas vivas exalando cosmo defensivo. A luta chegava a ser desleal, eram praticamente dois contra um, ainda sem contar a diferença de poder. Que cavaleiro de bronze sem armadura desafiaria um cavaleiro de prata? Seria melhor acabar com esse combate o mais rápido possível.

- Força Explosiva de Kraitos!!!

Thouma é jogado com uma imensa força destrutiva, junto com uma imensa quantidade de areia e tudo que não estava preso ao chão, mas ainda sim, a maior vítima era o cavaleiro de Pegasus que se perdia nas nuvens e continuava a subir.

- Está morto! – Moses olhava para cima. – Poucos cavaleiros sobrevivem a queda, se sobrevivem agradecem imediatamente a sua armadura. Ele vai morrer antes de cair. – Virava-se em direção ao seu companheiro, o cavaleiro de Pegasus deveria agradecê-lo, era melhor morrer em combate do que torturado.

Olhava para seu companheiro cada vez mais chorando sangue, violando a mente de uma mulher. Por mais que fosse uma amazona, não sabia o quanto o gosto sádico de Asterion iria. Percebia que algumas nuvens negras se juntavam querendo formar uma tempestade. Era o que aquele tempo anunciava: o começo de uma grande tempestade.

O cavaleiro de prata de Baleia deu um passo, e a ideia, assim como um golpe, veio como um relâmpago. Colocou os braços para cima em proteção, e em poucos momentos veio um raio para cima dele. A armadura defendeu parte do golpe e o próprio Moses usou seu corpo como para-raio, mas ainda sim sofreu um golpe muito poderoso. Com o ataque, sentiu os braços dormentes e eletrificados, e, ao tentar se movimentar, sentiu que cada junta de seu corpo fora eletrificada. Ele estava certo, aquele cavaleiro de bronze tinha um plano.

Quando notou qual seria o próximo passo lógico de seu adversário, tentou correr para proteger Asterion, mas seu corpo respondia com certo atraso, por mais que fosse veloz, naquele momento, ele mesmo era seu pior adversário. Seu corpo estava travado.

Thouma descia em uma velocidade assustadora em direção a Asterion, o qual estava esquecido do mundo real e estava no mundo mental de Marin. Levou um golpe direto no topo de sua cabeça afundando junto com Thouma na beira da praia.

Moses não acreditava no que aquele moleque acabara de fazer. Havia achado uma falha no seu golpe, apenas ganhou impulso para atacar por cima. Usou o poder da natureza para ampliar o seu golpe para retardá-lo e atacou com seu próprio corpo contra o Cães de Caça.

-“O garoto é muito bom.” – Pensou Moses.

Thouma saia da água, acabado com grande parte dos ferimentos abertos que ainda não tinham cicatrizado, porém a dor era companheira constante dos cavaleiros de Athena, e assim tirava sua irmã de suas amarras.

Moses achava tocante aquilo, odiava questionar aquelas ordens, muito bem poderia atacar eles agora, um ato de covardia, seria o certo a fazer de acordo com as suas ordens, mas isso tudo era culpa de Asterion. Tudo que tinham de fazer era reportar o que aconteceu com o trabalho de Shaka e entregar Marin como traidora. Moses esperava ambos saírem da água.

*****

Gigars estava um pouco mais afastado das doze casas, por mais que gostasse de ser o Oficiante-Mor, achava desagradável o clima de guerra que os doze cosmos áureos emanavam. Os cavaleiros de ouro possuíam tantos problemas emocionais e desvios de caráter quantos os humanos, porém pareciam não saber que tinham poderes muito acima de qualquer pessoa normal. Talvez, fossem realmente deuses afinal, como Shaka mesmo parecia achar, dizendo ser o humano mais próximo de Deus.

-“Fazia bem o grande mestre ter uma mão de ferro sobre esses loucos.” – pensava Gigars.

De repente, Gigars sente a aproximação de seu discípulo, Piton. Ele era seu porta-voz. Havia olhos demais em Gigars e no que ele fazia, mas não tantos assim em seu discípulo que era tão escorregadio como uma serpente.

- Trouxe-os como o ordenado, mestre. - Piton estava ajoelhado para seu mestre. Gigars percebia depois que os convocados estavam também presentes, ocultando sua presença e existência.

Jamian de Corvo.

Spartan de Bussola

Jiste e seus Cavaleiros Fantasmas.

- Chamei vocês porque aqueles imbecis cavaleiros de prata não me reportam nada. Misty de Lagarto, Babel de Centauro, Marin de Águia, Moses de Baleia e Asterion de Cães de Caça estão perdidos, quero que você, cavaleiro de prata de Corvo procure-os imediatamente. – Ordenava Gigars.

- Sim, Oficiante-Mor. Mas sabe o que dizem: asas negras, noticias negras... – E como um vulto e com um som agourento de corvos, Jamian desaparece.

- Spartan, procure Shina. – Gigars sabia que ambos tinham um elo de amizade, e como um dos mais rápidos cavaleiros de prata poderia achá-la mais rápido.

- Imediatamente. – Sumia como se nunca tivesse existido.

- Já vocês. – Dizia à Jiste que havia recentemente sido reintegrada ao Santuário. – Vai me trazer a armadura de ouro de Sagitário, sem combate, sem sangue, sem nada. Apenas a armadura. Finalmente achamos um cavaleiro que possa vesti-la. O Grande Mestre não quer que a flecha dourada seja empunhada novamente por um traidor contra Athena.

- Às suas ordens. – Sibilava na escuridão e sumia como uma sombra que foge da fonte de luz.

Após um tempo em que não havia mais nenhum cosmo por perto, Piton pede a palavra.

- Porque eles, mestre? Presumindo que os cavaleiros de prata estejam mortos, eles não sobreviverão aos traidores da “Resistência”. – indagava Piton.

- A diferença é que todos aqueles cavaleiros de prata tinham sua honra, não atacavam sem se anunciar. Imbecis. Já esses não, eles têm mais amor a sua vida do que a sua honra. Do que adianta a arma mais poderosa do mundo quando não se sabe quem é amigo ou inimigo? Se os traidores estão nessa filosofia, porque não iríamos adotá-la? - Um sorriso maligno era compartilhado pelo mestre e discípulo.

*****

Shiryu havia saído, estava desconfortável na presença de Pandora e Lynna. Ambas fechavam os ferimentos de Isaak, muito sangue fora perdido, agora cabia ao cavaleiro de Cisne atravessar ou não o portão da morte. Ataduras estavam feitas, lençóis trocados e Isaak ainda continuava com sua febre alta. Alguns medicamentos foram ministrados, apenas Isaak poderia traçar seu destino agora.

- Você é muito boa cuidando e ministrando medicamentos, acho que você não deveria ser uma amazona, e sim uma sacerdotisa. – dizia Lynna apertando uma atadura de Isaak.

- E sua máscara fica bem em você, você deveria ser amazona. – dizia Pandora tentando cortar qualquer relação com a sacerdotisa, mas sem demonstrar ser hostil a ponto dela desconfiar. Ser uma espiã era sempre andar no fio da navalha.

- Falo sério, você seria uma boa sacerdotisa. Esconde quem você é em meio a dezenas de camadas. Tantas que parece que quer esconder algo de si mesmo. – Ao falar isso, Pandora gela por dentro e trata de ocultar-se imediatamente. Ela odiava esses mind games quando eram contra ela.

-Não creio nisso, meu destino estava traçado na constelação de Andromeda. – dizia Pandora na frase mais axioma que rege a vida dos cavaleiros e espectros.

- Nem sempre... A constelação indica apenas um caminho, é fácil seguir nesse caminho, mas sair dele também é. Muitos cavaleiros se corromperam na longa história do Santuário, desde agentes até cavaleiros de ouro, e hoje, o Santuário serve a uma deusa maligna. Acreditar que uma amazona pode se tornar uma sacerdotisa parece-me bem mais fácil e plausível. – A voz da sacerdotisa não havia ironia, sarcasmo e nem mesmo uma mera ambiguidade, apenas uma certeza tranquila.

Pandora novamente gela por dentro, seu controle emocional não deixava transparecer muita coisa, mas aquele diálogo aleatório para com ela era muito assustador. Parecia que apenas com um vislumbre fraco de seu ego, ela era capaz de olhar diretamente para sua alma.

– Raramente não vejo as nuances de emoções das pessoas, as suas são difíceis e complexas, sempre mudando de frequência e não são harmonizadas com a sua armadura. Geralmente, cavaleiros e armadura são um só, mas parece que vocês são duas entidades diferentes sendo forçadas a algo. – Lynna era precisa em suas palavras, até mesmo para aquela situação a qual não sabia de nada. – Tudo que posso dizer é que você tem um ótimo coração, tanto que o protege como pode, e que estou aqui para ajudar, não se preocupe.

Pandora olhava a sacerdotisa e via um poço de bondade, mas até onde seria que a impressão podia ser a verdade?

6 comentários:

  1. foda , mas como eu te disse thouma ta no osso se for depende do destino de pegasus , só o seiya mata deuses, agora e pandora? shiryu vai usar alguma armadura? quando esmeralda vai volta da cidade dos pés juntos ? e hana ?e quem matou salomão iala

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  2. Opa! Grande Wagner! A pergunta é se o Thouma também está ligado a essa profecia ou não?! Todas e outras perguntas serão respondidas... Sabe-se lá O___o' To de zoa, vão ser respondidas durante a saga =)

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  3. Dad D. \o/
    Capítulo maravilhoso como sempre. Acho que a espera até fez ele ficar ainda melhor xDD

    Shiryu, meu galã de comercial da Loreal Paris masculino by China continua interessantíssimo *-* Ele de fato não precisa de uma armadura para ser um personagem bom de se ler XD

    Thouma vai ter que tomar porrada, não tem jeito. Essa é a maldição de Pegasus. Para a vitória ser alcançada é necessário apanhar até você perder o tato por não sentir mais nada e aí sim, após falar um ou dois discursos com uma trilha sonora apelativa e dramática sobre amizade e Atena que não terá pra ninguém \o/

    HSAUHASUHASUH, zoa XD

    Enfim,

    A Pandora continua sendo um maravilhoso objeto de estudo, e eu não me canso de ver os conflitos internos dela. Chega a ser fascinante imaginá-la carregar tantas incertezas dentro de si sem se deixar transparecer. Isso mostra uma força muito grande da parte dela ^^

    A Sacerdotisa quaaaase acertou. Boa sorte na próxima tentativa para ela o/

    A Marin é uma das que eu mais tive pena, apesar de não dar tanta atenção aos sentimentos dela. Podem achar que ela não é forte, mas eu respeito muito esse autocontrole dela, e espero que ela consiga sobreviver xDD

    Esperarei o próximo capítulo ansiosamente. Parabéns, dad, arrazou como sempre ^^

    Beijocas e se cuide =*

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  4. Uia, adoro seus comentários!

    Loreal Paris é brabo XD Pois é... Shiryu tem sua importância assim como Shun e os outros que já apareceram. E será que ele tem armadura? Sera que ele vai tomar a armadura do Okko?

    Thouma vai "Thouma" muita porrada ainda, e ele ta se achando o Seiya XD

    Pandora é uma caixa de surpresas (to demais nos trocadilhos), do mesmo jeito que o Shiryu é interessante sem armadura, ela acaba sendo por causa de sua impotencia, e agora com a Lynna, a Sacerdotisa, capaz de ver as emoções das pessoas. Ela sim vai dar bastante dor de cabeça para a Pandora.

    Marin é uma guerreira mesmo, para resistir a tanta tortura...Só Thouma poderá salvá-la, a pergunta é: ele vai conseguir?

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  5. Irmão, vilão e estrategista de primeira, pq é isso que vejo em AN, estratégia de ambos os lados. Parabéns!

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  6. Uia! Obrigado pelos elogios, só dá vontade de melhorar mais ainda =)

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