Alma Nova 12 - Dualidade: Quando os Deuses são Humanos

19 anos atrás...

Aioros ainda estava chocado com o anuncio, estava completamente em choque. Não queria essa honraria, ela pertencia ao seu amigo Saga, queria liberdade, proteger os humanos como sempre fez e, quem sabe, ser um deles. Mesmo assim, Aioros era parabenizado por todos, pelos cavaleiros de prata que serviam como guardiões, pela sacerdotisa que iria ter Athena, pelos oficiantes-auxiliares; mas ao procurar o único que realmente lhe importava naquele salão sentia que o lugar estava vazio.

Saga estava nos corredores subterrâneos do Santuário, uma rota segura de fuga para Athena e outros que não fossem cavaleiros em tempos de guerra, um lugar que abafava o cosmo de um deus. Sempre ia para ali quando estava com seus problemas, preferia escondê-los, suprimi-los ao máximo, porém esquecia que ele não podia fugir de si mesmo. Não podia fugir do sentimento de não ser o Grande Mestre para proteger o Santuário que tanto ama, Santuário ao qual ele fez tantos sacrifícios como o de seu amor e de seu irmão que padeceu como um criminoso indigente. Tudo isso para ser rejeitado, ter seu maior sonho destruído.

-Está vendo o que ganhou com tanta devoção? Apenas ingratidão.

A voz parecia com a sua, parecia que vinha de todo lugar e de lugar nenhum ao mesmo tempo. Será que Kanon, seu irmão, havia sobrevivido? Somente ele poderia achá-lo ali, mas era impossível que estivesse vivo. Ninguém sobreviveria. Ninguém sobreviveu.

- Ainda com remorso por ter matado seu irmão? De ter estripado uma parte de você? E não, não sou seu irmão, mas sou parte dele, sou tudo que você reprime e anseia. Eu sou você.

- Não pode ser. Não sou como meu irmão. E não estou ficando louco. – O cavaleiro de Gêmeos tapava os ouvidos com força, quase estourando sua cabeça. Era apenas uma situação traumática para ele. Forçava sua mente a também suprimir aquela voz, mas ela apenas se tornava cada vez mais clara.

- Não adianta, eu sou você. E não me confunda com seu irmão, ele morreu injustamente, sem um julgamento de seus semelhantes, pela pessoa que ele considerava mais importante. Morreu pelas suas mãos.

- Ele era um traidor, um assassino, um conspirador. Queria governar a Terra, não queria ser mais vassalo, mas sim um suserano! – Gritava Saga com os dentes cerrados, e quase estourando sua própria cabeça.

- Não! Ele queria a mesma coisa que você tentou desejando ser o Grande Mestre. Apenas proteger com as suas próprias mãos tudo que acreditava. Ele podia ser maligno em sua concepção cega e manca, mas ou você morre como herói ou vive o bastante para ver você mesmo se tornar o vilão. Por isso que ele contou para você, ele lhe deu a missão de ser o seu limite moral, a sua âncora, e o que você fez? Trancafiou-o para morrer de acordo com seu parâmetro de justiça.

- Mestre Shion concordaria comigo!

- E acha justo o que ele fez? Quem por acaso é a justiça? Ele ou Athena? Você ou Athena? Athena é apenas uma arma, um instrumento, o real deus é o Grande Mestre que manipula uma criança, ensinando-lhe sua justiça. A justiça é questão de um ponto de vista, não há justiça absoluta. Tudo é uma guerra que o vencedor conta a história.

- Não é verdade. A justiça é como a direção de um vento, é como a gravidade. É única e verdadeira, não tem lado, não tem desvio e é incorruptível, somente essa é a justiça verdadeira. – dizia Saga repetindo seus ensinamentos.

- E que justiça há em um irmão matar o outro? Que justiça há em um homem e uma mulher que se amam não poderem ficar juntos? Que justiça é essa que não permite um pai cuidar de sua filha?

Aquilo era monstruoso para Saga, ouvi-lo dizer tudo aquilo, mas não na voz de seu irmão, e sim na sua voz. Uma justificativa para ele aceitar se corromper por uma boa causa, a sua causa. Quem melhor que ele para educar Athena, educar sua própria filha? Mas essa era uma decisão que não cabia a ele, e o cavaleiro de Gêmeos não iria ceder.

- Saga! Saga!

Seu nome era chamado, trazendo-o de volta daquele embate. Viu-se parado sem mover um músculo, por um momento que durou uma eternidade, sua voz não era chamada pela sua própria, mas sim por Alana, a sacerdotisa que possuía a próxima reencarnação de Athena no ventre. A única mulher que com uma palavra podia trazer a realidade.

- Alana? O que faz aqui? – Saga via a mulher que tanto amava grávida correndo para os seus braços sem sua guarda pessoal de cinco cavaleiros de prata, sem o Grande Mestre e sem o futuro Grande Mestre Aioros.

A sacerdotisa apenas corria em sua direção, abraçando seu amado com a armadura, que era feita para resistir ao mais poderoso golpes, resistindo por eras. Era impotente perto de um abraço da pessoa amada. Alana, apesar de ser dois anos mais velha que Saga, era uma flor perto do cavaleiro de ouro da casa Gêmeos.

- Fiquei preocupada, não o vi no salão cerimonial. Não sabe o quanto você me assustou! – A preocupação da sacerdotisa dos cabelos violeta era genuína, o amor que ela nutria pelo cavaleiro era de maneira tão grandiosa que o desarmava contra qualquer ação que ele visse que a negasse.

Abraçada e aconchegada em seu peitoral, Saga tentava abraçá-la com cuidado para que a intensidade de seu abraço não a ferisse. Ao mesmo tempo sentia o corpo mole, rendido àquele ato de carinho. Não queria fazer nada há não ser retribuí-lo.

- Mesmo assim, meu amor, você não pode estar aqui. – dizia Saga. - É perigoso...

- Jagga está me protegendo, e Maya esta de prontidão para avisar qualquer coisa. – Sua amada olhava para seus olhos apenas saindo o mínimo de seu abraço para olhá-los. – Acho que temos problemas maiores que esse...

-Sim. - Concordava com ela, com sério pesar. – Mas não sei como rever essa situação, fui o melhor que pude, tentei ser o melhor para o Santuário, mas foi em vão como você pode ver.

-Talvez seja o melhor, apenas fomos instrumentos de Athena. – Sorria Alana conformada. – Eu serei a santa que Athena escolheu para vir a Terra e você será o guardião da casa de Gêmeos. Talvez seja aonde podemos chegar graças aos planos divinos que eles reservaram para nós.

-NÃO! VOCÊ NÃO PODE DEIXAR SUA FILHA E SUA MULHER DESPROTEGIDAS. SEM TOCÁ-LAS, AMA-LAS E PROTEGE-LAS. É O SEU DEVER COMO SER HUMANO. ESQUEÇA QUE É UM CAVALEIRO, SEJA HUMANO! – A voz que Saga ouvira e discutia em sua cabeça, que também era a sua, gritava em desespero. Parecia chorar. Seja quem fosse ele também amava sua filha e Alana, e ao contrario dele mesmo, ele expressava e se desesperava, luxo o qual ele próprio não se dava.

-Sim. – Saga assentia reabraçando-a. – Pode ser o plano divino, mas eu sempre as protegerei, custe o que custar.

O casal se beijava com força como se aquele fosse o último. A voz entendia a mensagem.

Saga seria humano...


******


Nos picos de Rozan, estava Mu ajoelhado perante o velho ancião da China que em sua concepção era o segundo no comando da Resistência Aioros. Ainda sim, era estranho demais um cavaleiro de ouro da casa de Áries ajoelhado diante de uma figura de aparência tão deplorável, mas Mu e Shunrey sabiam que o Mestre Ancião era mais que sua aparência, era sua experiência e sabedoria. Especulações sobre sua estada ali são diversas, mas ele mesmo nunca dizia, ela apenas rezava vendo o passar das eras.

- Os cavaleiros de bronze de Pegasus, Dragão, Cisne e Andrômeda estão protegendo Athena. Garan, o servo da casa de Leão está também no Japão, e deixei meus dois discípulos: Shiryu e Kiki, como suporte. – Mu era quase um militar se reportando para com o antigo cavaleiro de Libra.

- Sinto uma magoa em você jovem Mu de Áries. Como se tivesse perdido uma vida nesse meio de caminho. – dizia Dohko.

- Sim, mestre. - Mu se choca, ainda estava sentido com a morte da amazona de Fênix. Culpava-se por não conseguir salvá-la de Shaka de Virgem. A única que não estava nessa guerra, que estava em uma guerra pessoal e que foi convertida por Athena sem saber que era a Deusa que ela foi destinada a proteger. – Tentei salvar uma amazona de bronze, mas ela foi morta por Shaka. Eu não entendo, já que Shaka é o mais próximo de nós dos deuses, o cavaleiro mais poderoso, e ainda cai na rede de intrigas que é o Santuário.

- Não se abale, Mu. – dizia Dohko em uma sabedoria pausada. – Shaka ainda é uma criança, ele busca iluminação porque talvez seja o mais perdido de nós. Shaka fechou os olhos para tudo no mundo, fechou a alma para as pessoas para entender melhor o mundo, porém ele se esqueceu que o mundo não é feito de deuses, mas sim de pessoas. Ele pode ser o mais próximo dos deuses, mas ainda é um humano. Athena prega que a compreensão deve vir de compaixão, não por lógica ou equilíbrio. Athena prega a proteção e não a guerra pura e simples. Athena não quer isolacionismo, mas sim o acolhimento, se fosse ao contrario, porque reencarnar?

- Mesmo assim, mestre. É injusto! – Mu por mais racional que fosse era ainda um ser vivo com sentimentos que o regiam.

- Por isso que existimos, todos nós temos uma função de corrigir as injustiças, algumas coisas nunca mudariam. Veja Aioros, um dos cavaleiros mais valorosos de Athena e o que ele teve como recompensa? Uma família morta, um irmão que lhe odeia e que largou mão de todos os seus ideais e de seu nome sujo com o mais vil dos traidores. – dizia o cavaleiro de Libra. – E não acho que seria diferente em qualquer outra situação, a pior das hipóteses seria não existir a “resistência Aioros” para lutar contra essa teia de mentiras. Veja o verdadeiro líder da “Resistência Aioros”, ele é o maior injustiçado.

- Injustiçado?! Acho que ele é um manipulador andando para o lado que mais lhe é conveniente. – Mu se arrependia de suas palavras. – Desculpe, mestre. Não sou ninguém para julgá-lo.

- Relaxe, você ainda é jovem e ainda guarda muita mágoa dele. – dizia Dohko com uma risada leve e senil. – Mas ele quem começou a revolução, ele é o líder, mesmo que não possa fazer muita coisa morto. Como eu disse, todos temos uma missão de vida, a dele é que nem a do Aioros que conhecemos. Ser o Mal necessário.

De repente, Dohko abaixa a cabeça, em um momento de tristeza mórbida que nem mesmo Mu consegue decifrar.

- E mais sacrifícios foram feitos... – Dohko sente a partida dos cosmos dos cavaleiros da Coroa Boreal e de Cefeus.

******

Marin, a amazona de Águia, gritava mais uma vez, com esse era o oitavo grito da noite. Seu oitavo pesadelo. Asterion de Cães de Caça lançava uma sugestão de pesadelo para cada vez mais malear a mente da amazona de prata que era um escudo impenetrável, não conseguia decifrar a mente dela, não conseguia saber de nada além do que ele já sabia.

Estavam na praia, sentada na areia, enquanto Asterion estava sem as pupilas dos olhos. Tentando adentrar a mente de Marin, e Moses, o cavaleiro de prata de Baleia, estava entediado olhando o mar, a única coisa que lhe acalmava, pelo menos naquele momento.

Asterion pela oitava vez saía do transe, deixando cair a oitava lágrima de sangue. Um efeito colateral de seu dom quando não consegue o que quer.

- Larga de mão, Asterion. Vamos mandar essa vaca para o Santuário. Aposto que o Grande Mestre vai adorar essa traidora. – Moses era um homem rústico e de ação, odiava qualquer trabalho que não fosse combate, pelo menos enquanto cumpria sua função como cavaleiro. Ele já era um veterano de guerra, tudo que queria ou era uma guerra aberta ou paz.

- Sabe que eu não consigo. – Por mais que tentasse, Asterion não conseguia parar com algo incompleto. Ele sempre queria mais, queria fazer além do seu serviço. – Quero descobrir o que Marin tanto esconde, mas acho que não vamos conseguir assim, precisamos de algo mais; mas o quê?

- Ela não tinha um irmão? Acho que era o cavaleiro de Pegasus! –dizia Moses.

- E Pegasus está vivo... – Asterion iria cumprir mais que sua missão novamente.

*****

No Santuário, o Grande Mestre estava ansioso. Cada segundo que se passava era angustiante para Ares, todo aquele tempo de espera. A equipe que ele mandara para o Japão para esconder as evidências e vigiar Shaka, não havia reportado o relatório. Havia mandado também dois cavaleiros de prata, Misty de Lagarto e Babel de Centauro, para eliminar os cavaleiros de bronze e Athena, que ainda não haviam retornado.

- Você não vai conseguir, Ares. Eles estão certos, Athena está do lado deles, e você está confuso. Como você pensa ser o “novo deus do mundo” ao lado da deusa da discórdia?

- CALE A BOCA!!! – Gritava Ares em mais um de seus surtos esquizofrênicos.

¬- Você sabe que vai perder, não há chance de você existir sem a Eris. E Athena vai vencer. Ela tem a Vitória ao seu lado.

- Errado, Saga. – Dizia Ares em mais um diálogo \ monólogo. – Ninguém sabe onde Vitória está…

- Ela sempre estará ao lado direito de Athena. É o lugar dela, e ela sempre estará lá!

Eris\Athena entrava no recinto, a mente de Saga se esvaia e Ares saía de seus transe, acordando de maneira assustada via a doce menina loira que era a reencarnação da deusa da discórdia. Ares realmente não sabia o que era pior: ser assombrado por Saga ou ser manipulado por uma garota que é a reencarnação do mal?

- O que foi, meu escolhido? Ainda o seu “antigo eu” lhe incomodando? – A voz de Eris era inebriante, era aconchegante, era boa demais para ser verdade. Era difícil não aceitar aquela voz lhe manipulando, mas por isso que ele era o “seu escolhido”.

- Nada, minha jovem deusa. Apenas aflições contínuas que logo serão estripadas. – Ares evitava que Eris dominasse sua mente sibilando suas mentiras. O grande problema de ouvir o que Eris dizia era perder sua própria vontade. Era só observar o Santuário, todos ajoelhados perante a um falso Grande Mestre e a uma Falsa Deusa.

- Não se preocupe, vou logo acender ao status de deusa. Basta nossa querida “Athena” morrer, e imediatamente eu me fortalecerei, me tornando a nova deusa desse mundo. – Eris abria a enorme cortina cerimonial deixando o sol entrar. – Logo, não precisamos mais se esconder.

-“Quando uma mentira se torna realidade, o mundo será o errado” – Sussurrava Saga pelos lábios de Ares.

- Disse algo? – Indagava Eris.

- Nada. – Ares escondia a verdade.

*****

Okko estava ainda sentindo a costela e o braço esquerdo reclamando, porém graças ao treinamento de cavaleiro, seu corpo se recuperava bem. Estava habituado a quase morrer e melhorar repentinamente. Tirando Pandora, ele era o melhor da equipe. Thouma mal conseguia respirar sem dor, foi lhe dado uma cadeira de rodas para que se locomovesse que era empurrada pela doce Mihu. Isaak estava entre a vida e a morte, sempre agonizante, pois seu sangue contaminado estava sendo expulso de seu corpo, e Pandora não saia de seu lado, sempre com uma toalha umedecida cuidando de Isaak.

Alguém quase nas mesmas condições de Isaak era Shiryu. O jovem cego cuspia sangue, apertava o coração tentando fazer ele não explodir, pois era isso que ele sentia. Kiki apenas rezava pelo seu irmão de treinamento sofrendo com seu karma e orava para quem quer que fosse para que ele não morresse, descia para a reunião deixando os dois cavaleiros abatidos nos cuidados da amazona sobrevivente, enquanto Garan cuidava para que o coração do cavaleiro voltasse a sua ritmia normal, sincronizando o seu cosmo com o de seu paciente. Shun, por sua vez, estava sentado no hall de entrada com Hana.

- Está bem mesmo, minha amiga? – Shun apesar de um rosto jovem, exalava segurança e um ombro amigo. Uma segurança indescritível para Hana que estava abalada no momento.

- Realmente não sei. – Hana sentada com um vestido branco pertencido a mãe de Shun, estava quase em posição fetal, com os lábios tremidos e olhos mareados. – Dizem que sou uma deusa, pessoas morreram. Pessoas morreram por minha causa.

Hana desabava em um choro de desespero. Não havia divindade naquilo, aquele choro era tão humano quanto qualquer um. A jovem não entendia porque a necessidade deles se matarem, de se sacrificarem por ela. Shun abraçava a jovem das flores, a família Harusuki e a família Amanya sempre foram amigas, e Shun e Hana sempre foram como irmãos.

- Hana, ao que parece você é uma deusa de paz e proteção. Você é uma guia, talvez você seja a única que possa parar isso. – Shun colocava Hana contra o peito alisando seus cabelos púrpuras, como sempre fazia para acalmar sua amiga.

- Eu? Uma deusa de paz e proteção? Eu não consigo sequer me proteger, o que dirá ser uma deusa de proteção! – Hana tentava conter o choro, era desesperador para ela saber que pessoas morriam por sua causa.

- Vai ver que por isso que essas pessoas existem. Para que você possa se importar com o mundo e esses “cavaleiros” se importarem com você. – Shun fala isso com uma convicção impressionante.

- Mestre Amamiya esta certo, jovem Hana. – dizia Garan que descia pelas escadas com Thouma em uma cadeira de rodas, Okko com o braço ferido e sendo apoiado por Mihu e Kiki. Pandora não descera, pois estava cuidando das feridas de Isaak e Shiryu.

O servo da casa de Leão deixava Thouma próximo ao sofá sendo amparado por Mihu, enquanto Okko sentava-se em outro sofá e Kiki saia da cozinha comendo diversas frutas encontradas na dispensa encostando-se em uma parede devorando uma maça. Garan era o único em pé, em uma imponência que mesmo tendo no lugar do braço esquerdo uma peça metálica e não possuindo um olho, que era tomado por uma grossa cicatriz, como um líder era completo.

- Deixe-me explicar o que realmente se passa, Athena. – Garan começava a falar até ser interrompido por quem ele achava que era a sua deusa.

- Não sou essa Athena, me chame de Hana.

- Perdão, sei que estamos forçando você a esse título, mas você não sabe o quanto você é necessária. – Garan deixa a voz de professor estremecer um pouco com a emoção de encontrar a verdadeira Athena. – Deixe-me explicar o porquê de todos nós estarmos dispostos a dar nossas vidas por você.

- Me forçando? – Hana levantava, exaltada, não querendo e nem assimilando muito bem aquelas informações. - Vocês me outorgaram a um título que eu não sou e nem quero ser, sou uma órfã, adotada por um casal de japonês. Não sou nenhuma reencarnação de uma deusa pagã destinada a proteger o mundo, sou apenas uma estudante de letras. Só!

Hana caía e chorava novamente.

- Vocês são pessoas com suas vidas, seus sonhos, suas esperanças. Vivam elas. – Hana caía no sofá, nos braços de Shun, que como um pai consolava uma filha.

- Nossas vidas são devotadas a você, jovem Athe... – Garan se consertava. – Jovem Hana, a diferença de nós e você é que sempre soubemos que estávamos destinados a isso. Fomos forjados para esse momento, para servi-la. – Era complicando para Garan explicar a complexidade de ser um cavaleiro de Athena, você ser destinado, querendo ou não. Alguns até hoje caiam em contradição até hoje. – Veja a amazona de Fênix que se sacrificou em seu nome, deu a sua vida para protegê-la, mesmo nem se considerando uma amazona de Athena.

- EU NÃO SOU ATHENA!!! - gritava Hana. – SOU HANA HARUSUKI!!!

- Eu sei que você é Hana, mas você também é Athena. Aioros se sacrificou para que você pudesse sobreviver, não porque você era Athena, mas sim porque você era uma criança. – Garan parecia se tornar um pouco mais sofrido com suas palavras. – Ele faria isso por qualquer criança. E a prova que você é Athena, é que você está com a armadura de Sagitário. A herança de Aioros para a sua deusa-menina, ele sacrificou tudo, sua vida, seu amor, sua honra, em nome de Athena. Por isso que nos intitulamos a “resistência Aioros”, ele é o maior de nossos mártires.

- Então, explique porque vocês acham que ela é Athena? – indagava Mihu, a melhor amiga de Hana, que empurrava a cadeira de Pegasus.

- Aioros deteve um plano maligno que visava o assassinato da reencarnação de Athena e trocá-la por outra criança. Sabendo o assassino iria tomar o lugar do Grande Mestre do Santuário, sendo o porta-voz de Athena. Ele fugiu com Athena para fora do Santuário. Foi caçado sem misericórdia, e todos que os caçaram acreditavam que ele tentou matar Athena. Pensaram que o plano que estava ocorrendo era o de Aioros, mas não era. – Garan lacrimejava e tremia ao contar a história. – Aioros era o símbolo de humanidade e de honra no Santuário de Athena.

- E esse santuário? O que pode fazer contra o governo do mundo inteiro? – Shun era metódico, mas era um fato. Vários exércitos contra quatro dúzias de pessoas?

- Muita coisa. Um cavaleiro de bronze tem o poder de derrubar um país com uma milícia bem-preparada, um cavaleiro de prata tem o poder de desafiar um país bem-preparado militarmente e um cavaleiro de ouro é tão poderoso que só um pensamento dele é equivalente a um cavaleiro de bronze. Todo esse poder ligado a toda devoção que os cavaleiros têm para com o Santuário e para com Athena em mãos erradas é catastrófico, mas graças a nós, a Resistência Aioros, a situação não está pior. Estamos causando uma guerra interna no Santuário contra o falso Grande Mestre com sua falsa deusa. Nem tínhamos mais esperança de encontrá-la, até que o cavaleiro de ouro de escorpião informou no Santuário que encontrara a armadura de Sagitário. – Garan respirava fundo ao contar bem resumida a história, mas sem omitir nenhum detalhe importante.

A história parecia um absurdo, parecia um conto de fadas ou no mínimo uma história ruim, mas explicava muita coisa. Explicava até mesmo aquela conversa, explicava as pessoas que tentavam matá-la. Até mesmo Mihu e Shun, que não tinham relação com os cavaleiros e nada daquilo, acreditavam naquela história. Hana estava chocada demais e chorava.

- Já disse, não quero ser deusa, não quero que mais mal seja causado; quero só que as pessoas sejam felizes, que tenham suas vidas, quero só paz. – dizia Hana ainda chorando nos braços de seu irmão de consideração.

- Isso é o mesmo de dizer que somos tolos que sacrificam suas vidas por uma ilusão. – dizia Garan se abaixando para olhar Hana nos olhos. – E nós queremos ser esses tolos. Queremos. Fomos talhados para essa tolice e escolhido pelas estrelas para essa tolice. Queremos apenas a paz e a sua felicidade. Todos nós nascemos para lhe adorar, e não sei quanto aos outros, mas o que me contaram era verdade. Você deve ser a pessoa mais bondosa desse mundo.

Hana olhava para todos os outros presentes na reunião, e todos confirmavam, fosse com um aceno, um sorriso ou mesmo um simples olhar. Aquilo emocionava Hana, pensando que eles estavam enganados, mas que não podia decepcioná-los...

*****

Pandora sabia que, taticamente para sua missão, deveria estar na reunião. Na verdade ela deveria ter matado Hana quando teve chance, no entanto se via cuidando dos cavaleiros de Athena abatidos. Era mais natural para ela que havia nascido para ser uma sacerdotisa e não uma guerreira, porém não uma sacerdotisa de cura e sim uma clériga da morte, servindo como porta-voz para Hades.

Ainda não sabia por que possuía tanto cuidado para com o cavaleiro de cisne, nem o porquê de se colocar na frente dele, sendo que havia sentido hostilidade em relação a ele. Pensava que poderia ser pela Morte Negra, o golpe que mesmo que seu usuário morresse lhe garantiria uma companhia para o Tártaro. Havia algo nele que Pandora não sabia realmente o que era, mas que lhe chamava atenção.

Pandora tirava a máscara e revelava seus olhos de cor violeta, a mesma que impermeava sua armadura de Andrômeda. Aquela máscara lhe sufocava, não por ser uma máscara, pois o objeto era claro e se modelava com seu rosto, mas por sentir que com aquela máscara todos sabiam que ela tinha algo a esconder. Albior de Cefeus sabia... Albior era sábio e inteligente, não fazia ainda sentido que ele a mandasse para “proteger” Athena. Logo ela. Ele simplesmente poderia não ter mandado ninguém, Heda, Spika e June tinham mais lealdade em um fio de cabelo do que ela mesma em toda a sua existência. Seria ela apenas um mero joguete dos Deuses-Gêmeos?

- Ei, você. – Pandora se assusta. - Se não estiver muito perdida em seus pensamentos, poderia pegar um pouco d’água para mim?

Pandora percebe que era o outro paciente, o jovem com cabelos longos trazido pelo jovem Lemuriano, quase a beira da morte. Estava de olhos abertos, olhando diretamente para ela, apesar de ainda deitado em uma péssima posição.

- Melhor colocar sua máscara. Uma amazona não deveria tirá-la.

Desesperada, a falsa amazona pega a máscara com certo desespero e a coloca rudemente no rosto, tanto que a deixa cair. A cena era acompanhada por um riso do cavaleiro que acabava de acordar. O que ela não compreendia.

- Do que está rindo? Terei que lhe matar se ver o meu rosto. – dizia Pandora evocando uma tradição.

- Por que eu sou a regra a sua exceção. – ria Shiryu leve e divertidamente. – Sou cego, sou a pessoa que você menos deve se preocupar em ver seu rosto.

Pandora notara que ele realmente olhava fixamente para o vazio e não diretamente para ela, mas por via das duvidas ela ainda colocou a máscara.

- Posso apenas imaginar com as informações dos outros sentidos, além de confiar certamente no meu sétimo sentido. Aprender a ver claramente o fluxo de cosmo de uma pessoa. – dizia o cavaleiro consciente e com o dorso nu.

- Eu tenho essa capacidade, mas só sinto como um arrepio. – dizia Pandora.

- Ela substitui a minha visão, é como se eu visse tudo contra uma luz. Admito que estou privado dos detalhes, mas ainda sim consigo viver e ser um cavaleiro. – Shiryu dizia isso com orgulho e não com a esperada angustia. – E o cavaleiro de Cisne? Como está?

- Mal. – Pandora respirava fundo como se o que ela iria dizer fosse uma fraqueza dela. – Foi acertado pela morte negra. Agora está sangrando e beirando a morte.

- Então não há nada que possamos fazer, só esperar que ele não atravesse a porta que divide o mundo dos vivos e dos mortos. – O cavaleiro sem armadura recitava a frase como cotidiana. – Também vivo nesse estado.

-Como assim?

- Tenho um sério problema cardíaco, toda vez que elevo meu cosmo demais meu coração não suporta, posso viver muito bem sem ser um cavaleiro, mas assim a vida não seria completa. Você deve me entender.

- Sim. – Não. A amazona não entendia, se ele podia viver como uma pessoa normal não fazia sentido ele ser um cavaleiro. Ela mesma queria ser uma pessoa normal. Era impossível aceitar que alguém havia escolhido essa vida por vontade própria.

Pandora se via humana demais, lembrava da luta contra o Andrômeda Negro. Os deuses-gêmeos possuíram sua mente e seu corpo. Tinha que afastar sua própria humanidade de si mesma...

*****

Avezzano, vila da Itália. Seis anos atrás...

O jovem cavaleiro de ouro da casa de Câncer olhava a devastação de uma pequena cidade e chorava sobre um cadáver. Tudo era destruição, ainda com as cinzas quentes, cadáveres recentes. Sabia de quem era obra, do homem que lhe treinou, que lhe deu seus poderes e técnicas. Era discípulo de um monstro. Giovani achava que era capaz de quebrar o ciclo de violência, mas viu que ele mesmo era parte desse ciclo sendo que o corpo que ele carregava no colo era de Alessa, sua noiva.

Tudo por causa de uma omissão, por causa de esperança das pessoas serem boas e puras em essência, se enganara profundamente. Sua terra amada, sua mulher, sua honra, seu orgulho, morto e queimando em cinzas. Podia sentir o cosmo daquela cria do inferno com o poder de incinerar tudo que é vivo. Seu toque só trazia destruição e seus ensinamentos eram uma enfermidade para o mundo. Esse era Nabal, o Demônio dos Demônios, como era conhecido entre seu povo: os Lemurianos.

Deixava o corpo de sua amada, iria vingar-se de tudo que ele causou de desgraças para esse mundo, inclusive a ofensa de ter nascido. As suas lágrimas se tornavam espíritos de um resto de humanidade de Giovani que morria naquele momento assim como tudo que ele amou. Caminhava para vingar a morte de Giovani, pois a partir de agora ele seria Máscara da Morte.

Nabal havia concluído o treinamento de seu discípulo e o esperava ansiosamente...

2 comentários:

  1. Nossa... Agora sim o MDM pode ser considerado um cavaleiro de ouro com características de cavaleiro de Atena! Obrigada por não ser o Kuramada, dar um passado decente a um personagem faz toda a diferença XD

    Se antes eu achava a Hana perdida, tive minha confirmação agora, tadinha. Até o Shiryu que é cego tá se encontrando mais do que ela xDD

    Falando no Shiryu, que momento cuti cuti foi esse dele com a Pandora? Adoro ele *-*

    Esse cara é charmoso até sem a armadura de Dragão, tsc u.u

    Pandora tem se mostrado cada vez uma personagem mais interessante(e ferrada XD). Esse conflito interior dela é muito bom de acompanhar e é muito bem explorado por você, dad D., tá de parabéns \o/

    Acho muito bem explorado também a história do Saga, o único momento em que ele se permitiu ser humano fez com que ele fosse tragado pela escuridão que ele tanto quis lacrar ^^

    Mestre Ancião falou muito bem, apesar de que o Shaka vai morrer careca n.n *vai bater na mesma tecla até a morte*

    E bem, depois de tais doces palavras, me despeço para talvez ler ainda antes de dormir o 13° cap XDDD

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  2. Pois é... Alguém devia dar um motivo pra ele ser daquele jeito! E espere que tem mais coisa sobre esse "acidente".

    Hana... Tadinha da Bichin... Ta mais perdida que o Shiryu que é um cego em tiroteio XD Sinto que a fiota tem queda por Dragões XD

    Pandora está em alerta máximo sempre, não dá mole nem pro Shiryu XD

    Saga também é um pobre coitados, só amava a mulher dele e queria cuidar dela pessoalmente... "de boas intenções o inferno está cheio..."

    E o Mestre Ancião é o unico com juizo pra tudo isso, mas como ele ta caquetico, não pode fazer muita coisa... Só servir de mestre Zen... E não é que ela me alcançou O___o

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