Alma Nova 18.1 - Um Outro Dia para Morrer

Nota do Autor: O capitulo ficou gigantesco (mais do que o normal) tanto que um arco que eu coloquei deu pra fazer um capitulo inteiro, então ele foi quebrado em três partes! 
No último episódio de Alma Nova (que já faz um enorme tempo):
Esmeralda estava presa um abismo onde apenas habitava sua consciência e em um rompante de força de vontade ela ressurge na ilha de Kanon. Mas não consegue se materializar completamente. E Shaka, o cavaleiro de ouro da casa de Virgem por um instante sente o cosmo de fênix e envia seus discípulos para eliminá-la.


O vilarejo da ilha de Kanon estava vazio, depois do incidente da “volta do Demônio da Ilha do Kanon” e do recém desaparecimento da Ilha da Rainha da Morte, ilha que prendia cavaleiros de pior índole de Athena. O vilarejo dava alimentos e oferendas para a Ilha da Rainha da Morte, e até chegaram ao absurdo de doar uma menina órfã para aquele inferno. Era naquele lugar que Nikol se arrependia profundamente.

Nikol era o último sacerdote de Athena naquele local, não tinha filhos, e talvez fosse o último habitante daquele vilarejo. Pensava mesmo que era o fim e que estava louco, afinal de contas, ele estava cuidando das cinzas de um esqueleto de fogo que surgira do nada em plena vila. Mas o grito que ouviu não foi de raiva ou de ódio, e sim de desespero. De uma criatura que não era aquilo. Achava-se realmente um louco, porém era essa a sua última missão na terra e veria o que aconteceria. Tudo que ele tinha era a sua vida para arriscar e ver o fim da história, o que não era um preço tão caro naquela situação.

Respirava forte devido a sua situação e sorria para a ânfora que usava para guardar as cinzas daquele ser, pois podia ser uma salvação para todos, afinal, em toda história dos servos de Athena, nada era o que realmente parecia ser. Tanto que a última aparição do Demônio da Ilha de Kanon era até um cavaleiro, mas o registro de qual seria sua constelação fora perdido há muito tempo.

Em seus devaneios, Nikol sentiu dois cosmos surgindo do nada. Ele tinha um certo domínio da técnica de sentir o cosmo. Podia sentir um cosmo chegando, mas não havia sentido eles se aproximarem. Eles apenas estavam lá, como se sempre estivessem, e ele não havia ciência disso.

Quando saiu de seu casebre, viu dois cavaleiros de costas, olhando para uma réplica da estátua de Athena. Havia um misto de desprezo naqueles cosmos, e mesmo sabendo que fosse um erro, saiu para conversar com os cavaleiros de Athena.

 ****

- Boa tarde, nobres senhores. – dizia Nikol saindo de seu casebre. Já sabia que eles viriam por causa do incidente.

Os dois cavaleiros não deram a devida atenção para o sacerdote, e fixavam o olhar para estatua. Nikol, tinha um vasto conhecimento sobre constelações e também um pouco de conhecimento da arte lemuriana, a raça que parecia descender de Hefesto, que era a mesma que talvez criou o que são as armaduras de prata e bronze.

Via que o cavaleiro um pouco mais baixo, (e que era meia cabeça mais alto que ele mesmo), possuía uma armadura azulada, com traços sólidos, porém com aspecto de leveza. Da parte que olhava, saiam dois apêndices da armadura, com o formato de caudas. Com desenhos simples, como se fosse pintado um olho. Reconhecera como a armadura de Pavão.

Já a outra era um pouco mais completa, sem muitos relevos de seus encaixes, dando um aspecto de peça única. Além disso, desenhos de uma flor a rodeavam, junto com um próprio aroma adocicado. O tom da armadura do cavaleiro mais alto ia de um profundo e delicado lilás que dava uma opacidade em contraste com seus cabelos ruivos.

Era raro ver cavaleiros de prata juntos, era comum isso com cavaleiros de bronze, ou mesmo oficiantes, pois aos primeiros geralmente era dado as missões de treinamento ou a função de atuar como diplomatas. Mas aqueles cosmos passavam a impressão de serem soldados e não guias. O sacerdote também reparou em suas vestimentas. Ambos carregavam as vestimentas provenientes da Índia, que se assemelhavam aos mantos religiosos, mas no exército de Athena isso tinha também outro significado.

Membros que usavam esse tipo de vestimenta se destacavam por terem poderes ou conexões que não vinham necessariamente de Athena, e sim de várias gerações. Geralmente estava destinado a esse conceito aos cavaleiros de Virgem que costumavam ser receptáculos da vontade de Buda e seus discípulos. O que para Nikol e outros sacerdotes causava uma sensação de estranheza, de ter uma religião dentro de outra religião.  Por mais que passasse a mensagem de que Athena é uma deusa tolerante, para ele dava a impressão de castas religiosas que enfraqueciam a devoção. Mas eram apenas divagações de um velho sacerdote.

- Senhores? – tentava mais uma vez o diálogo com aqueles dois seres mitológicos.

O cavaleiro de pavão olhou para trás com todo seu desprezo, como se um animal o incomodasse. Seus olhos não traziam compaixão, apenas intolerância e negligência. 

- Velho, onde está Fênix? – e seu olhar parecia que o fulminaria, literalmente, caso a palavra saísse de um tom de seu agrado.

- Meu nobre senhor, não sei dizer. Essa ilha vive de santuário para Athena devido à aparição do demônio da ilha de Kanon, e não por guardarmos a armadura de bronze da constelação de fênix. Não vemos um cavaleiro há anos e... – Antes que terminasse a frase, o cavaleiro de prata o pegou pelo pescoço, sufocando-o, não aturando seu discurso.

- Calma, Shiva. – O cavaleiro de Lótus havia se pronunciado virando-se finalmente. – Apesar de estarmos aqui para eliminar Fênix, não significa que devemos ser agressivos com os mortos.

O sacerdote havia entendido a ameaça mesclada naquelas palavras, viu quando eles se voltaram para ele, que ambos carregavam um ponto em suas testas, um sinal que vinham mesmo da Índia e que talvez fossem telepatas. Se fossem realmente, não haveria motivo para falar aquilo, a não ser por ameaça.

- Nobre sacerdote – havia um tom irônico em sua fracassada diplomacia. – Estamos atrás de uma mulher que traja a armadura de fênix. Foram ordens do homem mais próximo de Deus e cavaleiro de ouro, Shaka de Virgem, nosso líder e mestre. Cabe a nós, Shiva, o Cavaleiro de prata da constelação de pavão e eu, Ágora, o cavaleiro de prata da constelação de Lótus, esse ser e tudo que teve contato com ela. E sentimos seu cosmo, por instantes, aqui. Ajude-nos e morra como um servo de Athena ou não nos fale e morra como um traidor, e isso é a pior coisa nessa época trair nossa Deusa Viva Athena.

E Nikol sabia que iria morrer, será que valeria morrer como um traidor por causa do Demônio da Ilha de Kanon? Pela Amazona de Fênix? Por Athena?


 *****

- O que diz, sacerdote?! – dizia Shiva ainda enforcando Nikol. Para Nikol, estava clara a resposta.

- Desculpem, mas não cultuamos a mesma Athena. A minha prega a proteção para o oprimido. Não assassinatos. – dizia com a voz sussurrante devido ao enforcamento. Cada palavra fazia fechar a mão do cavaleiro em seu pescoço.

Ambos se entreolharam e sussurraram em suas mentes “Traidores por todos os lugares”.

Antes que Shiva pudesse fechar o punho para acabar com mais aquele traidor. Uma explosão de cosmo furiosa veio do casebre de onde o sacerdote saiu. Em seu reflexo para defender-se de um ataque, Shiva lançou-o para longe, para proteger os olhos, e com o outro braço poder atacar, Ágora fazia o mesmo - ambos tinham quase os mesmos movimentos. Não era apenas a explosão de cosmo, o calor também era absurdo. Tanto que as roupas de todos os atingidos começavam a exalar fumaça e, em suas bordas, pequenas brasas. Nikol foi jogado para longe, enquanto os dois cavaleiros se colocavam imóveis esperando que fosse um cavaleiro escondido, que talvez fosse a própria fênix, forçavam a vista contra aquela explosão de calor e o que viram os deixaram aterrorizados.

De uma ânfora, saia um esqueleto, com orbes vermelhas onde deveriam ficar os olhos. Tinha a aparência cinzenta e apenas estruturados o próprio crânio, parte do tórax e um dos braços. Nunca viram nada parecido, o cosmo que era lançado era assustador. Além do calor que queimava grande parte do oxigênio que respiravam. Era difícil manter-se ali, mas o terror e o fascínio estavam dentro daquele casebre.

O esqueleto estava se recompondo daquelas cinzas, olhava para seu corpo sem uma expressão aparente. As cinzas haviam acabado, e o esqueleto estava totalmente completo, aterrorizado e totalmente anti-natural. Se houvesse uma palavra que definia o que aquele ser estava sentido era a dúvida de sua existência. Olhava as mãos e o corpo cadavéricos, e simplesmente, pequenas luzes brancas se uniam àquele ser aberrante. E dali formou-se um coração humano, que começava a prolongar-se com artérias e veias e cada vez mais um corpo humano era recriado.

Ágora estava apenas em choque, não conseguia raciocinar, sua mente estava confusa, pois aquilo não era apenas um efeito místico ou milagroso. Aquele cosmo todo era a representação de toda a força de vontade, um verdadeiro renascer, e queria ver onde isso iria acabar, pois era um efeito único.

Shiva já não era não místico, e corria em direção a Fênix para ser uma ferramenta do destino, pois tudo aquilo que está morto, deveria continuar morto. E dirigiu-se direto para a abominação que estava se criando com um soco energizado. Tinha que derrotá-la antes que sua forma completa se restaurasse.

Ao chegar perto, os músculos já estavam sendo criados, o que lhe trazia uma leve silhueta feminina. Quando o soco chegou próximo ao rosto, a mão que apenas faltava a ponta dos dedos para ser coberta com tecido muscular fechou em seu antebraço, detendo o golpe. E Shiva conheceu um breve momento de desespero.

Aquela quase-pessoa tentou gritar em seu rosto, mas nada saia. A expressão facial, a pouca que tinha, mostrava sua fúria. E de dentro da sua garganta via que sua língua e mucosas ainda estavam se formando. Até que um grito de raiva surgiu junto com suas cordas vocais, estridente e contínuo. E o cosmo pareceu se expandir mais, ao ponto de Shiva ser apenas segurado pelo braço recém-formado da criatura que o soltou e o deixou ir com o fluxo do poder incinerante. Shiva foi pego pelo seu irmão-de-armas e teleportado para um lugar, mais longe do epicentro da devastação que acontecia.

Os músculos e órgãos internos estavam reconstruídos, agora o resquício de pele começava a cobrir o corpo, que outrora havia começado como cinzas. E com o crescente grito contínuo, o vulcão antes adormecido ressonava com o cosmo e começava a tremer. Como se desse apoio a tal evento, e em um último rompante, uma explosão maior e única foi criada. Devastando tudo em volta, mas por milagre, não o monumento a Athena, o qual apresentava apenas algumas rachaduras. O vilarejo não existia mais.

Havia apenas uma menina delicada, nua ajoelhada, em pratos aos pés de Athena...

 *****

Ágora e Shiva sentiram a calmaria depois de toda aquela destruição e se aproximaram lentamente, pois aquele cosmo era capaz de desafiar, quem sabe, os dois juntos. Para ambos, ficou claro o porquê de seu mestre Shaka não conseguir derrotá-la completamente. Ao verem a cortina de poeira baixar do gerador de tal cataclisma, viram que o tal sacerdote estava de peito nu, apenas com as calças, seu manto estava por cima daquele ser aberrante e monstruoso que havia causado aquela destruição.

Ambos tentaram lutar contra o receio natural de se aproximar. Viram aquele clérigo protegendo aquela entidade de destruição e morte, viram um pequeno humanoide, no máximo de 1,55m. E não havia mais cosmo naquele ser, aquilo era menos que um humano.

- Deve ter gastado do seu poder para voltar a vida. – dizia Ágora, ainda querendo entender como ela foi capaz de se reconstruir apenas de sua vontade. Era um fato que transcendia o que conhecia.

Shiva não perdeu tempo divagando sobre o que aconteceu e novamente preparou mais um golpe agora para matar os dois de uma só vez. Desta vez, o golpe foi com um instinto assassino, o cavaleiro de Pavão estava cansado e temoroso com os poderes daquele ser, mesmo sendo ou não a amazona de fênix, aquela aberração deveria morrer.

E tudo que acertou foi o chão. O que deixou os dois cavaleiros de prata aterrorizados foi que não houve um movimento na velocidade da luz, não houve defesa, simplesmente ela levantou-se e saiu com uma calma que era sobrenatural, levantou Nikol e saiu do ataque. Um segundo golpe veio de Pavão, mas com um simples passo para trás, mesmo apoiando o clérigo, ela saiu da rota de ataque dele.

- Ágora, que tipo de bruxaria esse ser está usando? – Shiva havia já perdido sua calma, deixava seu temor transparecer, nem mesmo usava o contato mental para comunicar. E havia outra frustração, não conseguiram ver o real rosto da amazona, talvez ainda estivesse deformado pela recuperação de seu corpo.

- Nenhuma, não tem truque, parece apenas que ela sabe onde você vai atacar antes mesmo que você ataque. Não há cosmo, não a técnica, não há nada...

      ******

- Impossível! – Shiva gritava, já havia perdido a razão e a calma, tudo que acontecera era demais para sua cabeça. Esperava uma batalha digna, mas tudo que encontrou foi horror e agora frustração.

- Shiva recomponha-se. Se não, vai perder antes mesmo de começar. -  Ágora parecia ser a voz da razão naquele momento. Se seu companheiro perdesse o controle, teria que lutar sozinho e suas técnicas mais poderosas requeriam tempo.

O cavaleiro estava suando, não pelo calor que ainda dominava o local, mas sim o frio de medo de não ter o controle da situação. Repetia o mantra para acalmar seu coração e seu espirito, sabia que seu parceiro iria cobri-lo, caso fênix ousasse fazer algo.

Porém, tudo que ela fez foi sussurrar com o clérigo que sorria, apesar de um dos seus ouvidos estar sangrando e sua face esquerda estar em carne viva, ainda sim sorria numa felicidade genuína. Depois, ele logo foi embora.

- Fênix. – dizia Ágora chamando a atenção para si. – Você é o ser que tira a paz do coração de nosso mestre.

- Seu mestre? – A voz da amazona estava rouca, pois a pouco tempo atrás ela nem existia. Ela ainda estava fascinada por sentir o calor e o solo, ver as cores do mundo... Voltar a existir era um dom fascinante.

- Shaka, o cavaleiro de ouro da casa de Virgem. – Relembrava o cavaleiro de prata a sua adversária. E aquele nome, doeu em sua mente, lembrava de ser desintegrada enquanto atacava com tudo o cavaleiro de ouro que lhe havia tirado sua vingança. E até aquela dor era boa, era preferível sentir dor a não sentir nada.

- E vocês? – Esmeralda ainda não conjecturava bem as ideias ainda, suas memorias ainda não estavam claras. Tudo que ecoava em sua cabeça era proteger Hana e vingança. Apenas isso. – São quem?

- Sou Ágora de Lótus e ele Shiva de Pavão, somos discípulos de Shaka, e estamos aqui com o objetivo de eliminá-la e a todos que um dia te conheceram. – Ágora dizia isso para intimidá-la ou abalar seus sentimentos.

Esmeralda contemplou o céu. Lembrou-se de Hana, e a paz que ela lhe ofereceu. E para ela não importava se ela era Athena ou não, iria defendê-la com sua vida. Pensou que poderia simplesmente começar do zero, ser amiga de Hana, e tentar conhecer uma vida normal. Só que ela era o último resquício da Rainha da Morte, e aquele senhor que lhe acolheu também estava em perigo simplesmente por estar ao seu lado. Pensou, então, que talvez não tivesse uma segunda chance, que o destino era inexorável.

Esmeralda ajeitou o manto que antes funcionava como uma burca, agora como um vestido. Ambos viram a silhueta do corpo recém criado, sem cicatrizes, e aparentemente frágil, não era possível ela ter sobrevivido ao treinamento básico com aquela estrutura de corpo, mas o que mais assombrava era seu rosto, que era angelical em comparação a vários combatentes que eles já desafiaram. Parecia que trazia uma tristeza, a qual deveria ser consolada de alguma maneira. Chegava a ser um sacrilégio atacar aquela forma em que fênix se revelava. No entanto, não havia muita escolha para os discípulos de Shaka a não ser combatê-la.

- Shivkechhahhathiyaar, Shivkechhahhathiyaar - Shiva de Pavão começava a repetir esse mantra.

Esmeralda notou que havia um acúmulo de cosmo assustador naquele cavaleiro agressivo. Dois pares de braços místicos surgiram, pareciam orgânicos com o seu corpo, mas eram translúcidos. Aquele mantra era uma evocação da deusa da destruição de ciclos com o mesmo nome do cavaleiro. O cosmo que emanava dele era quase a nível de um cavaleiro de ouro.

E tudo que Esmeralda fazia era olhar com uma curiosidade e tristeza pelo que estava prestes a acontecer.

- ATAQUE DOS MIL BRAÇOS!!!!

Os seis braços atacaram em uma velocidade de mach 5, uma cadencia de golpes que eram mortais e imprevisíveis. Shiva também tentava ler a mente do oponente, mas não identificava nada, apenas havia vazio, e nenhum ato de reação.

A amazona de Fênix não estava nervosa com a batalha, havia experimentado a morte por desintegração, passou pela não-existência, onde era apenas uma consciência sem corpo. Ela via traços vermelhos saídos dos seis punhos, assim como o golpe anterior que ela saiu com o homem que lhe ajudou com o manto. Ela via a trajetória de todos os golpes, via onde iria acertá-la. Os traços tinham uma certa distância, tudo que tinha que fazer era apenas sair de sua trajetória. Deu apenas um meio passo para trás, era tudo que precisava, um simples meio-passo para trás, e deixar o corpo levemente de lado.

E com um simples movimento já previsto, todos os mil golpes foram inofensivos para o corpo da amazona. O que deixava Shiva frustrado, parecia que ela lia sua mente, mas mal sabia que ela via seus golpes a velocidade de um pensamento.

- ATAQUE DOS MIL BRAÇOS!!!

O cavaleiro de Pavão tentava novamente, esse era seu principal ataque direto. Era devastador e ninguém, nem mesmo Ágora, havia detido ou mesmo se esquivado desse golpe. E sua adversária nem ao menos se dignava ao esforço de escapar do golpe. Sentia-se uma criança raivosa contra um adulto.

- Você já percebeu. – a voz de Esmeralda era calma apesar de tudo, sua vingança era contra Shaka, não contra os seus fantoches. Que tipo de mestre leva seus subalternos a morte? – Desistam, voltem para suas casas, encontrem uma demanda e a sigam.

- CALE A BO... – Shiva interrompeu seu grito de frustação com uma frase de ameaça de sua oponente mal ouvida. – Repita o que você disse. REPITA!

- Eu disse que se levantar a mão novamente para mim, você vai perder seus braços que tanto lhe dão orgulho. – Fênix não havia ameaçado, era um aviso.

- ATAQUE DOS MIL BRAÇOS!!!

E a promessa foi cumprida, o braço principal caiu antes que pudesse executar o golpe completamente. Junto com todo o braço caído, a mentalização os outros quatro braços haviam desaparecidos. E apenas houve um grito de dor, nunca Shiva havia sentido tal tipo de dor física, não fora treinado o suficiente para lutar.

- EXPLOSÃO DE LÓTUS!!!

Ambos já tinham essa técnica, enquanto Pavão distraia o inimigo, Ágora canalizava sua energia e agora atacava com o oponente já enfraquecido, a morte era praticamente certa, pois naquele momento, ele chegava a alcançar um lampejo do sétimo sentido. O grande problema era que exigia um tempo precioso em combate. Uma explosão rósea atacou, dando um movimento ensaiado para Shiva usar um teleporte curto para escapar da morte certa. E o golpe cobriu toda a silhueta da amazona.

- Do limbo vieste, e do limbo voltarás-te. – dizia Ágora como uma prece para a morte àquela que perturbava a mente de seu mestre. - Shiva, e seu braço?

- É uma lição para a minha falta de humildade. – Shiva forçou o ferimento para tentar parar o sangramento. – E você precisa descansar, esse golpe lhe consome muito, mas conseguimos vencê-la.

O rastro de destruição era fascinante e aterrorizador, a explosão de lótus permitia chegar ao nível de um cavaleiro de ouro, mesmo que fosse a técnica mais baixa deles. Metade da ilha estava com um rastro de destruição cônico que ia do ponto de origem até mesmo o litoral.

E um arrepio correu em suas almas, aquele cosmo em chamas. Não era possível, o estômago não aceitava tal realidade. Ela estava parada ali, viva, com um ferimento na coxa esquerda, com o sacerdote desmaiado no braço direito. O que era impossível, e o rosto dela também deixava transparecer que estava surpresa. Teria ela o sétimo sentido? Todos aqueles que estavam em volta pensavam, inclusive ela, mas não emanava cosmo nenhum dela, só o que todo ser humano emana indicando existência.

- Acho que essa é nossa demanda vital, meu amigo! – Era a primeira vez que Shiva se diria ao amigo com afeição. – Nós teremos que matar aquilo que não pode ser morto.

Ágora sentiu a mesma coisa, que aquela missão custaria a vida deles, que pelo menos um deles não sairia vivo, ou mesmo os dois. Mas teriam que matar Fênix, pois aquela fora uma missão imposta para eles pela reencarnação de Buda, para talvez transcender a uma forma superior. E teve medo, mas iria completar sua demanda. E tornou a ficar em posição de lótus, para entregar a vida naquele golpe derradeiro.

E Shiva sorriu, daria sua vida também para dar tempo de seu amigo matar a amazona de fênix. Mas quando viu, Esmeralda pensou que ela não estava preocupada consigo mesma, e que o ferimento não existia mais. Parecia como novo, mas não precisava lutar só ganhar tempo.

- Garota, por que você simplesmente não ficou morta? –Acumulava seu cosmo enquanto tentava ganhar tempo com as palavras.

- Porque não pude. – tinha um certo ar de tristeza. – Estava pronta para morrer depois de matar Jango, até que o dito mestre de você me tirou a chance de me vingar. E só me lembro de ser desintegrada. Esperava encontrar demônios, de ser torturada por todos os que já matei, mas caí em um vazio, só com a minha consciência. Talvez aquele fosse meu inferno, o qual eu merecia, mas me lembrei que Hana, a única amiga que tive, precisava de mim. E voltei a insistir, voltei a existir.

- Fala da falsa Athena? – indagou Shiva.

- Não faço ideia se ela é ou não. Mas ela me deu um único momento de paz que eu esperava na vida. Uma paz que nunca mais eu pensava que iria sentir. Você iria gostar dela. Todos gostam.  – E Esmeralda sorriu com a lembrança. – Já disse, vocês não precisam morrer, mas abandonem essa vida de executores do Santuário e Shaka.

- Não vamos fazer isso. – Sorria Shiva malignamente, pois o cavaleiro de Lótus estava com um cosmo absurdo acumulado. – Se sobreviver, vou fazer questão de encontrar essa Hana e matá-la, e assim você teria companhia.

A feição de Esmeralda mudou de doce e serena, para um demônio de fúria que era antes. O cosmo, que não havia sido evocado ainda, explodia mais que o de Ágora e da explosão que ocorrera de quando ela havia voltado das cinzas.

- Vou lhes dar um destino pior que a morte! – E apontou a palma da mão para o cavaleiro sem braço. – AVÊ FÊNIX!!!


 *****

Shiva acordou e percebeu que estava vivo, porém a armadura lhe havia abandonado. Eram meramente cinzas. Seu braço esquerdo ainda estava lá, porém não tinha total controle sobre ele. Muitos nervos foram queimados, e percebeu também que seu campo de visão estava limitado, e naquele momento sentiu que perdeu parte da visão do lado esquerdo. Sentiu que o cosmo de Ágora ainda estava aumentando.

Porém ao focar a visão, viu Fênix ajoelhada a sua frente. Cerrou os dentes e tentou usar as pernas para uma impulsão rápida para levantar, mas não conseguiu, seu tronco subiu alguns milímetros e caiu. Olhou para trás, pois poderia já ter morrido, mas se seu inimigo estava ali, não iria atacar. E assim viu que não tinha mais pernas, os ferimentos que deveriam existir estavam cauterizados, viu que era apenas um cadáver que respirava, e ansiou pela morte, mas sorriu por conseguir tempo para o golpe de seu companheiro.

- Por que está sorrindo? – Perguntava Esmeralda.

- Tudo que precisava era ganhar tempo, apesar de morrer no processo. Ágora iria explodir tudo com seu ataque, iremos morrer, mas vamos levar você conosco. – tentava uma gargalhada de vitória póstuma, mas havia um tom de descrença no rosto da amazona de bronze.

- Isso não vai acontecer. Usei o golpe fantasma nele logo em seguida, só que não tornei a vida dele um pesadelo. Fiz ele apenas reviver o segundo anterior de maneira cíclica, para ele sair do golpe fantasma. Sua mente está destruída, mas sua força de vontade ainda faz ele meditar para acumular cosmo. – Esmeralda explicava didaticamente o golpe e via também o olho de seu adversário perder a alegria da vitória. - Só que sem mente, ele não tem objetivo. 

E ele gritou de raiva e chorou.

Esmeralda se levantou, e a armadura de fênix restaurava-se em volta de seu corpo por cima do vestido improvisado. Agarrou Nikol pela cintura e disse uma última frase ao sair.

- Eu disse que iria lhe dar um destino pior que a morte.

E desapareceu em pleno ar.



Dedico a todos os heróis que participam dessa loooonga jornada. Denilson e Wagner que me acompanham desde Registro da Ultima Guerra contra Hades, Luciana Maria, Lais (fiota), Ephemeron, WhiteWitcher, O Mega Sayajin Z, Virgo, patroa Juli, a minha Arqui-duquesa da Betação Saphira, dentre outros que nem cheguei a conhecer, mas que deram força para continuar!

Um comentário:

  1. Awn, mano fofo! *-* Obrigada! Quero sempre ajudar mesmo que um pouquinho!! ^-^
    Btw, o capítulo ficou o máximo! Descrições incríveis! *-*

    ResponderExcluir